“uma morte é uma tragédia, um milhão de mortes é uma estatística”
Nunca uma frase política mentirosa fez tanto sentido como agora.
Marielle Franco foi brutalmente assassinada no que se demonstra ser um crime premeditado com um enfâse e cariz políticos, acto contra uma socióloga, feminista, militante dos direitos humanos e vereadora brasileira filiada no Partido Socialismo e Liberdade, ala Esquerda de um país em deriva Conservadora.

Digo que a frase política é mentirosa não pela sua autoria, Joseph Staline, mas antes pelo conteúdo que aporta, já que Marielle é um nome mais numa lista que só em 2017 totalizou 40 vereadores e prefeitos mortos pelo Brasil. A sua morte, por mais que seja uma tragédia, é tão parte das estatísticas de um país que se tornou esse Faroeste Caboclo dos Legião Urbana. Números que aumentam e que agora, por razão ideológica, ganham voz e protesto por Mariella ser quem foi. Quem é. Mulher, negra, mãe e cria da favela da Maré.
O sucesso contra tudo o que é o preconceito enraizado de uma Sociedade que se vê mas não reconhece, uma cidade em estado de sítio, um Estado estuprado pela endémica corrupção instalada num país em convulsão. Mais a mais pelo desfecho fatal ocorrido quando a premissa em militar por Direitos Humanos partiu justo de uma bala perdida que vitimou uma amiga num tiroteio entre policias e traficantes.
Tragédia Grega, tropicalismo latino americano.

A morte por crime premeditado não é novidade, muito menos quando o sangue da cisma ferve e o divisionismo se impõe.
Não farei relato ‘Lava(do a) Jato’, nem a premeditação deste crime se alicerça numa corrupção ao nível Jurídico como o de Teori Zavaski ou da operação contra a corrupção que assola o Brasil.
Mas será que Marielle foi executada por se impor contra a intervenção Federal no Rio de Janeiro e expor os sucessivos abusos por parte da Polícia Militar contra os moradores das comunidades carentes? Uma vítima da vingança militar, morta com as munições de um lote vendido à Polícia Federal de Brasília em 2006, presentes também naquela que foi a maior chacina do Estado de São Paulo em 2015? Ou será que foi selecionada como a mártir de um movimento da oposição política que se insurge, sentada como passageira traseira, comportamentos diferenciados do seu hábito, coincidências a mais numa hora que se procura de definição e clareza onde só existem suspeitos por tudo e por nada?

Não, isto seria tudo coincidência que faria dela uma causa rebelde sem razão, jogada no ventilador das suspeitas infundadas de um Brasil tele-noveleiro.
Foi execução sumária num Estado onde a criminalidade supera os 30 assassinatos por cada 100 mil habitantes e um País em 11º lugar de violência no ranking mundial.

Marielle.jpg

Mas pergunto-me, na licitude dos actos póstumos, o quanto o inverso da morte de um opositor político geraria a comoção presente. Seria feito o luto condizente ou a celebração pelo seu desaparecimento como força retórica do mal vindouro?
Se um Bolsonaro feito mito de aparição Presidencial sofresse igual fim, teria igual comoção Nacional? Ou haveria uma esquerda celebratória da sua morte pelos desprezíveis valores que defende? (quem sempre apontou a Globo como o mal oportunista dessa Direita bafienta tem agora uma resposta democrática pela forma como expõe o crime e pretende levar tudo às últimas instâncias nessa ‘Ordem e Progresso’ Brasileiras)
Seriamos respeitosos na corrupção endogâmica que assola o Brasil, ou capazes de distinguir essa diferença, encontrando os ecos que assinalam este crime como o premeditado que acende um rastilho de mudança e não apenas de celebração fúnebre do momento?

Marielle foi assassinada porque fez frente nessa mudança necessária, mas esta morte, uma tragédia entre pares, apenas ganha voz e vazão por um causídico político partidário, nada mais.
E isso, em isolamento, é sempre pouco.
Que não caiam mais Marielles e mais vozes se escutem para que não existam vítimas ou mártires sem causa mas sempre razão.
Tragédias que não se tornem estatística.

Adenda:
Acrescento uma breve nota que merecerá uma crónica avulsa sobre a matéria em destaque.
Marielle fazia-se acompanhar por um motorista que igualmente foi assassinado de bárbara forma. O que é dele, merece honra e destaque? Mera menção? Ou nota de roda-pé e esquecimento. Foi político afinal, nada mais mesmo.

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