Há protocolo e há regra.
Jogada de xadrez.
Crime descrito, Ministério Público chamado a deliberar, uma agenda complicada que envolve Portugal e o exterior em ligação diplomática onde a figura jurídica se aufere difícil de aplicar.
Mas se o protocolo foi transgredido sem dó nem piedade, numa banalização viral onde as redes sociais se tornaram vendetta pessoal, que dizer da regra que agora surge?

(j’adoube?)

Não, não falo de Manuel Vicente ou de Angola e do Processo que manifestamente coloca em risco as relações bilaterais entre países que se dizem próximos.
Falo do incidente diplomático que coloca agora os filhos do ex-Embaixador Iraquiano em Portugal no banco dos réus da Justiça Portuguesa.

Analise-se bem a questão e de longe sou um experto em matéria jurídica ou criminal, mas compreendo o princípio que Angola invoca para não querer que um dos seus cidadãos seja em Portugal julgado: o protocolo será premeditado, transgredido, cheque-mate.

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Não me tomem por ingénuo, sabemos que os filhos do Embaixador são culpados do crime que cometeram. Há testemunhas e relatos, além da própria vítima, o Ruben Cavaco, em coma, como prova da ocorrência.
Mas também houve um acordo entre partes que selou um fim indiscriminado para que o dito incidente fosse silenciado.
Não foi. 30 mil euros, mais 12 mil de despesas médicas, entrevistas exclusivas, 15 minutos de fama.

E no texto que escrevi à época explicitei o erro disso; que “justo quando dois cidadãos estrangeiros se apresentam com passaporte diplomático para apresentar queixa de agressão física, (…) não compreendo onde falha a cadeia de comando para, desde logo, chamar as autoridades competentes no Ministério dos Negócios Estrangeiros para que a situação não tome as proporções que tomou.”
O facto é que tomou e agora agrava-se ao ponto de se pedir à Interpol que busque o paradeiro dos agressores.

Evidente que notificar o, à época, Vice Presidente de Angola não requeria forças policiais, mas foi da maior imprudência quando o estabelecimento da culpabilidade é recurso sobre o qual pendem as boas relações entre os dois países.
140 mil portugueses e 8 mil empresas nacionais em território estrangeiro não são propriamente agredir um só cidadão e levá-lo ao coma. Seria declarar a morte entre a solidariedade colonial que une Portugal e Angola e onde outros, ansiosamente, esperam para ocupar o lugar do morto.

E é aqui que as diferenças se acentuam e o verdadeiro poder da corrupção se alicerça.

Quando disse, frisando em seguida que isso era o que da lei decorria, “dada a violência da agressão – o Embaixador Iraquiano (deveria) ser dado como persona non grata em território Português.”, falava da resolução em tempo expedito de uma situação antes da sua explosão mediática, e onde, no tabuleiro de xadrez, se jogam com torres ou peões. Agora jogamos com Damas e Reis, num nível em que a transigência é cínica e mortal.

Chegados aqui qual será o xeque mate, aquele que nos matou ou o que mata menos?

Do Iraque podemos esperar uma reação semelhante à Angolana, num processo que se fará por esquecer.
Por aqui faremos um zugzwang, essa jogada que, ao não podermos passar, temos que fazer por força maior, engolindo a fama de branda Nação que somos.

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