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Hoje é dia de eleições e por isso não se pode falar em nada que tenha a ver com escolhas. Mas creio que é permitido falar em critérios, que não impliquem aconselhar isto ou vilipendiar aquele.
Há, nisso das opções, contraditórios interessantes. E deles venho falar, depois de uma semana de intervalo, causado pelo aborrecimento.
Vejamos, pois.

Para as estrelas do espectáculo, permite-se, e mais do que isso aprecia-se, e tanto ainda diria, instiga-se, o luxo, a ostentação, tudo quanto sejam os sinais exteriores de riqueza, esse conceito que o Fisco descobriu para enriquecer.
É a passadeira vermelha para as premières, são as limousines que transportam as apolíneas e venéreas figuras até ao palco da celebridade, tudo sobre o spotlight da fama, para que a vaidade se note e com ela a exibição.
São para os do futebol, esse desporto de milhões na bancada e nos rendimentos, os carros de altíssima cilindrada, a evidenciar a potência cavalar subjacente, de preferência a espatifar sem remorso na próxima, volta porque mais rico é quem mostra que não precisa, a imensa mansão e a mais protuberante companhia, tudo num excesso de curvas e descapotáveis, a fomentar anseio e desejo, tudo formas de instigar à sublimação da inveja, esse sintoma luxuriante do querer na forma do mais ter.
Já para os que se apresentam no trottoir da campanha pela causa pública é tudo na razão inversa. A modéstia faz parte das virtudes, o possuir torna-se pecado de estupro sobre a penúria proclamada de todos os demais. Há que prometer tudo e jurar não querer coisa alguma.

A um futebolista incensam-se os milhões, a um político censuram-se os milhares.
E, no entanto, ambos vivem de ilusões e promessas, os primeiros de circo, os segundos de pão.
E ambos caem fulminados na hora da desdita, apeados sem dó e lapidados sem misericórdia.

A lógica do pau de sebo, do fazer arrear quem trepou, aplica-se a ambos.
Porquê este diferenciado critério, qual a razão desta diferenciada maneira de julgar?
É a democracia que, com as suas virtudes, gera o facto e os seus defeitos.

Ao futebolista a multidão reconhece a raridade da arte, na política todos se julgam capazes.

Quanto mais as eleições se aproximam do quotidiano e nisso as autárquicas são de todas as mais exemplares, mais cada um se sente possível eleito.
O nivelamento gera, por isso, a abstenção, do mesmo modo que a distância enche os estádios.
Enfim, é isto e nada mais porque hoje é dia de se votar.

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O Presidente da República cumpre o seu apelo legal à participação. Os fazedores de sondagens esgotaram-se em prognósticos polémicos.
A razão que leva cada um a escolher tem a ver com a obra feita e com a obra prometida. Ou com qualquer outra razão qualquer.
Por um qualquer lampejo de percepção do que acima fica, houve quem quisesse um dia de abstenção futebolística no dia de se votar. Para que a escolha não fosse entre o estádio e a urna. A urna eleitoral, naturalmente.

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