A prestação de contas é um acto tão formal como paradigmático de uma Sociedade que se crê e diz Democrática.
Se muitas vezes pressinto que o acto falho da Democracia assenta no total desconhecimento da evolução histórica que nos fez passar de uma Monarquia a República e dela a uma Democracia – havendo Ditaduras e regimes autoritários de permeio – outras vejo que o simples laxismo em prestar contas é todo ele o enredo subtil para explicar o que se passou.

Em Agosto do ano passado, quando Portugal enfrentava mais um dos seus (infelizmente) típicos fogos florestais, a novata Ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, divertia-se numa festa da revista Flash.
Apesar da Ministra garantir que “uma Ministra nunca está de férias”, as suas fotos a dançar enquanto um incêndio decorria não caíram bem na opinião pública, tal como este ano uma entrevista com um cadáver em pano de fundo também não.

Não fosse a revista Flash parte do grupo Media Capital (TVI), quem sabe a lógica da prestação de contas de um ano para o outro não se visse nesse paralelo tão confrangedor. E lá está, se no ano passado a Ministra muito dançou, este ano marcou pontual presença para, em sorte de um azar, apenas vir se juntar ao coro de banalidades que o seu adjunto, o Primeiro Ministro e o Presidente da República vieram fazer no meio de um cenário Dantesco. Se nada disseram, pouco mais fizeram que “dar beijinhos no doí-doí”.

Mas e se não será com a sua demissão que se resolve o problema – acredito que por maior que seja a inépcia, não se troca um Ministro a meio de um incêndio -, há que se encontrar uma forma mais apropriada de prestar contas face ao ocorrido. Transcorrido o período de luto, olhemos para um Governo de União onde as mais sonoras vozes da crítica imediata são agora espúrio silêncio de oportunidade.

Pedrogão.jpg

Pergunto-me, numa intriga que assiste a todos os que associam a cor verde à Natureza, que é feito de Heloísa Apolónia e do seu partido satélite dos Comunistas?
Que mais, além do pesar Nacional, têm a dizer além do, agora, habitual passar a mão pela cabeça deste Governo? Nada.
E o PAN? Pessoas, Animais e Natureza, os três afectados em Pedrógão Grande e um partido a eles dedicados que se limitaram a um comunicado de pesar.

E enquanto os Comunistas alinhavam o medo que se insurge na natural aproximação entre o centro Direita e o Socialismo Soarista que Costa não destruiu, o Bloco, que pedia chuva ao invés de responsabilidades como no passado, tem levado duras lições no Esquerda Direita da SicNoticias.

Mas se há algo que todos agora falam, como se esse não fosse um facto consumado e de conhecimento público, é a prática da monocultura do Eucalipto.
Que importa que o SIRESP (operadora da Rede Nacional de Emergência e Segurança) tenha falhado uma vez mais?
Que interessa que a mesma seja a coroa de glória de António Costa quando este era Ministro da Administração Interna no Governo de Sócrates?
Que relevância tem Lacerda Machado, o amigo do Primeiro Ministro estar na negociação desta PPP inoperante e ruinosa desde o princípio?
Na verdade nada.

O relevante é o Diabo que chegou e se instalou em Portugal.

Se tivessem prestado maior atenção ao que o Arq. Gonçalo Ribeiro Telles relatou numa entrevista de Agosto de 2003 sobre o eucalipto em Portugal e onde todas as questões relevantes que nos fizeram chegar a Pedrógão Grande, à estrada da morte, à ausente prestação de contas política, quem sabe nada do que se passou teria passado.

Mas aqui estamos, rescaldo de incêndios que se fazem por apagar e um Primeiro Ministro num governo de um homem só.

“O Estado falhou e está a falhar” afirma Passos.

Diz Costa que não tem um ponto de vista, tendo apenas uma missão a cumprir. Factos são factos e após o incidente consumado, a tragédia ocorrida, colhidos os carbonizados frutos de tal desgraça, é normal que o Primeiro Ministro se recolha à sua presente insignificância de lançar este tipo de perguntas de resposta dada sem para elas responder.
Passos, quem sabe com a ajuda desse Sebastião Pereira – tal qual desejado que se busca saber quem é mas não existe – ganhou aqui um argumento político face a uma tragédia que ultrapassa o Humano e se torna Humanitária.

Mas no final – ou mesmo fim – porque não é esta uma história interminável, a culpa morre solteira e a prestação de contas será o que sempre foi. Se não fui eu foram eles, a perfeita silly season portuguesa, quente como todos os verões em que a Esquerda se encontra no poder em Portugal.

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