“Vocês ouvirão agora uma ópera. Porque ela foi planejada de forma tão pomposa, como só um mendigo poderia sonhar, e porque ela deveria ser tão barata, que até os mendigos possam pagar, ela se chama A Ópera dos Três Vinténs”
Bertolt Brecht escreveu, Chico Buarque adaptou e agora nós a vivemos.
Na inexistência de vinténs venham os euros, venha essa pompa dos mendigos que sonham, do barato que todos podem pagar, de uma nudez – quem sabe da alma – que será (sempre) castigada.
Passou a Troika em Portugal? Dívida de um país sobre-endividado por gastos públicos desmedidos e confiança num progresso que nunca chegou?
Existiu o Soarismo, a glória ministrial do Cavaquismo e a vã gloria de Cavaco o Presidente?
Passou o Socialismo incólume nos pingos de uma chuva de concordância com o centro Direita para ajustar contas nacionais?
Foi mesmo Passos o Primeiro Ministro durante a maior crise da Democracia Portuguesa?
Se não o foi deveria, porque senão vejo surgir brilhante, entre as nuvens, flutuante, um enorme zepelim.
A cidade apavorada se quedou paralisada, pronta pra virar geleia. Mas do zepelim gigante desceu o seu comandante dizendo: “Mudei de ideia!” – “Posso evitar o drama se aquela formosa dama esta noite me servir!”
Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni!
E as pessoas, jornalistas em especial, gostam de uma boa Geni, de um bode expiatório, de um Pedro Passos Coelho (PPC), feito para apanhar, bom de se cuspir, daqueles que serve para qualquer um, mas quando o Zepelim chega são os primeiros a gritar:
Vai com ele, vai, PPC! Você pode nos salvar Você vai nos redimir Você dá pra qualquer um; Bendito PPC!
E servido o guerreiro tão vistoso, tão temido e poderoso, voltam nele a cuspir!
Hoje Passos errou, errou quando usou como vantagem política um suicídio que, ao não ter ocorrido, serviria de argumento ao caos instalado num Governo perdido a braços numa crise incendiária onde as brasas da inépcia queimam todos – oposição incluída.
E desde logo, como mendigos que somos, assistimos ao barato com que podemos sonhar: a vã crítica dos jornalistas que nem se olham no espelho rachado dos seus feitos.
O suicídio politico que Bernardo Ferrão escreve é amplo sinal disso, mas maior é Bombeiro Pirómano de Pedro Tadeu.
Escreve o jornalista “Como errou nas suas previsões, Passos ficou sem saber ser bombeiro nem incendiário. Perdeu o sentido da vida política e oscila, hesitante, entre a representação do homem de Estado, responsável e ponderado, com a teatralidade do demagogo revoltado, exaltado e mentiroso.”
Só que Passos não errou, foi induzido em erro – como amplamente reportado – e pediu desculpa, facto que não ocorre no executivo actual que até se gaba do seu desempenho.
E que imprensa acrítica de si mesma é esta sob a qual vivemos, mais a mais quando a falência na reportagem do avião Canadair – que se diz que caiu e não caiu – pertenceu às informações da Protecção Civil, Entidade Pública Estatal, que se desresponsabilizou de forma inaudita sem a imprensa nada dizer.
Minto, Nicolau Santos, o assecla de Costa, tem batido de forma comedida no seu mentor, mas ainda assim já ninguém o lê.
Agora que Passos, essa Geni renegada, volta cometendo um erro face à desdita das mortes que a mesma imprensa havia sensacionalizado e tirado o seu proveito, vamos nele cuspir toda a retórica dessa culpa que nunca ninguém – a mais da oposição dessa Direita Conservadora que Portugal sempre foi mas prefere se dizer Esquerda Progressista – tem ou é capaz de assumir.