O preconceito é bom desde que não sirva como mero processo de intenções. Dito isto começo pois serei tão hipócrita como qualquer outro que expõe a sua opinião e faz disso palavra relevante para quem o lê.
Faz agora um par de semanas que fui abordado com um intrigante – e muy preconceituoso – tema acerca das funcionárias do Hipermercado Continente não poderem fazer uso de maquilhagem durante o horário de serviço.
Fizeram-me alarido acerca desse facto como se, neste mundo do profissionalismo acima de qualquer vertente onde a curva da possibilidade em que a maquilhagem já nem sequer borra ao gemido histérico de uma mulher à beira de um ataque de nervos, fosse relevante de ser por mim anunciado com carácter político numa das minhas crónicas.
Já o disse, sou tão hipócrita como aquele que me lê, mas não me coaduno na gênese preconceituosa que sirva mero processo de intenção.
Esta semana o Eurodeputado Polaco de Extrema Direita Janusz Korwin-Mikke veio, uma vez mais, lançar polêmica por dizer, e cito, que a desigualdade salarial entre homens e mulheres se deve manter porque as mulheres são “mais fracas, mais pequenas e menos inteligentes” do que os homens.
Evidente que o seu preconceito é puro processo de intenção, nada mais que isso, já que na sua génese fisiológica, como na de qualquer Ser Humano que habite este planeta, existe o facto biológico da reprodução sem a qual o Homem, face à Mulher, existiria.

Este discurso, empapado num preconceito que roça uma ideologia quasi criacionista acerca da culpabilidade feminina no pecado original – como se o mesmo fosse uma maça trincada pelo Homem que até hoje lhe ficou entalada na garganta – apenas demonstra como a cada dia que passa o conceito de paridade entre géneros deve substituir a mal afamada igualdade que hoje se pede.
É facto, Korwin-Mikke tem razão em parte, as Mulheres são fisicamente mais fracas.
Abrir frascos, em tom descriminatório, sempre foi tarefa masculina dentro de uma cozinha. Já cozinhar num Restaurante, ao que parece, sempre pertenceu aos Homens, mesmo que eles sejam do mais desorganizado quando chegue à hora da limpeza.
Mas redundâncias à parte, mudar o conceito cultural que vigora na Sociedade não se faz por imposição de Lei.
Se assim fosse usar um mero lenço/turbante, para cobrir o cabelo, pertenceria só e apenas a uma cultura e não a um padrão vigente que a moda copia.
Melhor dito que por umas meras linhas de texto disse-o Ruth Catala, missionária angolana residente em Curitiba – Brasil, quando desmonta o preconceito dentro da comunidade negra em torno do uso de um turbante utilizado por uma menina branca com cancro.
“Mandela não brigou por causa de turbante, Luther King não brigou por causa de turbante, Desmond Tutu não briga por causa de turbante…”
A apropriação cultural não existe, existe sim o medo em que a cultura seja partilhada. E essa frase feita que o portal far-right @polNewsNetwork1 tweetou, olhando para o confronto cultural entre a drag queen Gilda Wabbit e uma Muçulmana de niqab sentadas lado a lado no Subway Nova Iorquino, demonstram bem o pensamento retrogrado que o conservadorismo excessivo edifica.

This is the future that liberals want. – Este é o futuro que os liberais querem. – transformou-se na epítome daquilo que deve ser o tratamento de qualquer tipo de preconceito numa Sociedade Democrática e plural onde as fronteiras existem no limite hipotético das línguas e culturas que se devem partilhar: a afirmação constatou-se como se de uma pergunta se tratasse.
Sim, este é o futuro que a Liberdade promete – digo eu. E nele cabem todos, mesmo os mais ideologicamente rasos na sua argumentação contra-cientifica, tal como Korwin-Mikke, a quem um pouco de maquilhagem e um turbante só fariam bem para sentir algo que nunca sentiu: aceitação.
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