Pode que na verdade Winston Churchill nem tenha dito a sua famosa citação acerca da arte e cultura – “Senão por elas, porque estamos a lutar?” – mas cai que nem uma luva acerca desta realidade alicerçada nos factos alternativos e em toda uma discussão parca de argumentos que parece tornar a Sociedade em espectáculo de entretenimento sem vasão cultural que não seja mero efeito de repetição.

Não me entendam mal, sou o primeiro a assumir a hipocrisia de comer no Mc Donald’s e o prazer que é frequentar cadeias de fast food. Nada bate aquela batata frita e todos os garantes da certa certeza da carne vir de vacas felizes em prados verdejantes.
Mas a síndrome da repetição dessa igualdade cultural acaba por ferir de morte justo aquilo para o qual se lutou nessa citação inventada de Churchill.
Quando foi a última vez que compramos roupa de uma loja de bairro, comemos num Restaurante da vizinhança onde a comida tem o sabor da tradição?

Quando foi a última vez que não olhamos em nosso redor, vimos televisão e não nos foi mostrado um programa que não fosse ele também a cópia a papel carbono de uma importação recreada de algo que teve o sucesso necessário para ser imitado por aqui?
São as ‘Endemois‘ da vida, os canais de cabo, Fox’s e companhia, programas de talentos.

Desde o início dos anos ’90 que todos querem ter o talento obsessivo da imitação.
Choveram Estrelas, houve Operações Triunfo, Portugal com Talento, Vozes nacionais, capacitações de incapazes e claro, Ídolos que serviram mais para mostrar juízes a humilhar sonhadores de toda uma geração que nunca soube o que é a realidade de uma Democracia onde a Direitos correspondem Obrigações.

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A Sociedade dos facilitismos, das Novas Oportunidades, dos ‘forgotten man’ que Trump tão depressa declarou como esqueceu ao se rodear de multimilionários num gabinete sui generis da representatividade Norte Americana, são a prova dessa dicotomia do certo e errado que fazem a pauta política actual.

Todos querem ter o seu talento comprovado, mesmo que o seu talento seja nenhum. A culpa dessa responsabilidade nunca está, estará, ou foi de quem não o tem. A culpa, numa acepção religiosa, perigosa até, onde parece que a Cristandade se quer sobrepor em supremacia à Crença alternativa, é dos jurados.
É de Simon Cowell. Ele o mais temido e odiado de todos, o 10º ‘Nastiest Villains of All Time’.

É sobre a sua figura que se projecta a criação da Sociedade dividida. Dos renegados e descontentes que querem ter talento sem ter.
É o seu ‘You’ve got no talent’ que cria o ‘You’re Fired’ de Trump.
É ele a incubadora de uma América onde Milo Yiannopoulos existe, Stephen Miller tem poder e Steve Bannon é o Pai mental de uma Casa Branca onde as Fake News são ‘alternative facts‘.

Felizmente há factos que não são alternativos ou a escolha de um talento não recai no mero entretenimento que a ausente arte e cultura produzem. Assim, e porque a Democracia segue sendo a dos Direitos e Obrigações, há separação de poderes e a lição contra a imposição de uma alt(ernative) right ao que a Constituição Norte Americana representa têm reduzido Trump a meros tweets de entretenimento até chegar ao seu momento de se olhar ao espelho e saber que é ele quem está ‘Fired!’

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