Não sei se por sentido de decoro, cansaço ou apropriação pessoal, tenho mantido um maior silêncio acerca do Brasil, o meu Brasil.
antes escrevi sobre esse tema, mas é facto que não tenho abordado tanto a política Brasileira como antes dado que o mesmo se faz mais do mesmo ou quando me servi para articular textos, a crítica pode não passar de uma farpa que já antes tirei.

Hoje assim não foi.

Não tenho nenhum respeito sacrossanto por nenhum meio noticioso em geral, mas sempre considerei que a Revista Veja se pautava por um sentido, embora cínico, crítico do que são as notícias – nomeadamente políticas – relevantes a serem dadas. Hoje confirmei que o poder do mundo sequencialmente mais rosa se apodera de um meio onde os factos alternativos se querem como imposição de algo que nos remete a uma fuga velada daquilo que antes elogiámos e agora tiramos sarro como satisfação pessoal.

Não, não me refiro a Marisa Letícia, ex-Primeira Dama, mulher de Luiz Inácio Lula da Silva, tema que vejo ser abordado num sujo jogo político onde outros interesses se movam para fazer de um AVC a culpa, propósito e motivo para a sua morte, tema já repercutido na imprensa, mas antes a notícia que exibe Eike Batista como tendo que usar uma película de silicone para esconder a calvíce.

O multimilionário Brasileiro caído em desgraça financeira é arrastado nas teias de corrupção da Operação Lava Jato, mas o sórdido de tudo isto, na canalha máxima da humilhação do Ser, é mostrar em como ele era calvo, careca, de capachinho ou chinó.

Quando a 19 de Novembro de 2014 escrevi o texto ‘Eike Batista e o Tubarão Azul’, crónica inédita aqui na afarpa.com, nunca pensei que a Sociedade da vendeta financeira se tornaria a Sociedade da vendeta dos costumes.
Relido o texto só posso afirmar que, vistas as coisas, de delação premiada em delação premiada, acho que o prémio final seremos ser nós os maiores delatores, coniventes com a miséria moral de ver e dar visibilidade a uma permissividade sem qualquer ética deontológica.

Eike Batista.jpg

Eike Batista e o Tubarão Azul

Já que falei do Brasil e de petróleo, no caso da Petrobras, quero continuar com o tema, mas falar da EBX, a sua maior concorrente, a empresa privada do multimilionário Eike Baptista.

Certo, nem a Petrobras é já uma grande petrolífera mundial, nem a sua concorrente privada EBX lhe faz sombra, uma vez que o multimilionário abriu falência e está num complicado plano de recuperação económica.

Mas quem é Eike Baptista?
Bem, eu sei pouco, mas a verdade é que sempre me foi vendido como sendo uma espécie de Rei Midas Brasileiro que tudo o que tocava se tornava em dinheiro imediato. Eike era, até há pouco tempo, um excêntrico e muito publico playboy.
Aparecia ostensivamente em público exibindo a sua riqueza, coisa que poderia chocar o Brasil, mas que com a estranheza da desigualdade de classes do país, nunca foi problema e as pessoas viam em Eike um exemplo a seguir.
A verdade é que ele era visto a viajar no seu mega iate, em festas, “de helicóptero a trabalhar 24 horas por dia” como o próprio dizia, e nas loucas corridas de formula 1.
Mas tudo o que é muito grande acaba por cair.

Há coisa de uns anos, corria o ano de 2011, Eike faz o anuncio público da descoberta de um novo campo de petróleo em Campinas. O campo Tubarão Azul, de onde prometeu retirar uma média de 100 mil barris por dia.
O seu anuncio a incentivar investidores é lendário. É só ir ao YouTube e procurar por ‘Eike Baptista EBX Fraude’ e está por lá a sua profética promessa que nunca se cumpriu.
O investimento era algo como um trilhão de dólares (valores incompreensíveis para leigos), mas que tudo seria garantidíssimo, baseado na sua experiência pessoal de 30 anos de trabalho. E como Eike era o Rei Midas, os investidores foram na conversa e investiram cegamente.

Construiu-se parcialmente a petrolífera e depois de muito perfurar o Tubarão Azul era só uma sardinha amedrontada. De petróleo nem vê-lo.

A empresa EBX abriu falência e está num complicado processo de recuperação.
Os terrenos escavados para a construção da petrolífera nunca concluída, e que arrastaram consigo areia salgada, estão a contaminar o solo arável e a agricultura local está em risco.

A fortuna de Eike Batista, avaliada pela revista Forbes como sendo a 8° maior do mundo em 58 mil milhões de dólares, está reduzida a mil milhões que lhe foram confiscados por suspeitas de terem sido ganhos com conhecimentos privilegiados nos mercados bolsistas.

É uma espécie da História da gata borralheira onde o sapato de cristal, ao ser experimentado antes de se ir ao baile, rebenta no pé que está inchado.
Eike nada fez errado. Ou fez. Foi ambicioso demais num país onde a ambição já não é mais uma personagem de telenovela. É uma falência que fez perder milhões a investidores que acreditaram nas fantasias de um Homem de convicções.

Texto escrito em homenagem à minha amiga Paula Guimarães, por razões que só a própria sabe.

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