As verdadeiras amizades não se explicam, mais a mais quando se tratam de amizades que, nascidas num seio político o sabem transcender.
Mário Soares não foi meu amigo, pelo menos não num estrito senso pessoal. Foi-o da minha Família.
Podem pensar aqueles que me conhecem ou me lêem aqui, e dizer, mas como alguém de um pensamento político, até militante de outra – assim chamada – ideologia, ser amigo de quem militou, pugnou, por algo que a si não chama de verdade consequente.
Como pode alguém de Direita ser amigo de um Socialista?

Verdade seja dita, não foi porque Mário Soares, enquanto Presidente, mais condecorou a Senhora minha Avó, nem porque o meu Pai nele votou em determinado momento político da sua carreira. Não, acho que é algo que nos transcende a todos, completa a Portugalidade Democrática, a Liberdade que nos permite dizer e ser o e como somos, mas sobretudo, essa retaliação tão divertida dessa actualidade em que um Socialista se aninhou nas mãos Comunistas que outro antes se esforçou por derrubar.

Sim, Mário Soares, com todos os seus defeitos, feitios e particularidades foi aquele que, caído o Regime Salazarista nas mãos de Marcello, permitiu que uma horda comunista não se apossasse de um país a saque dado a quem dele fizesse seu uso e bel prazer.

Desmascaram isto o mito e causa Socialista de Soares? Não, por nada.
Em 2015 quando realizei a Exposição ‘Framed Reversed’ em Praga incluí uma sátira sobre Soares. Na verdade o quadro aprovado a ser exposto era a versão censurada.
Sobre uma tela de Eduardo Malta de 1933, onde a parcimónia de um António de Oliveira Salazar em primeiro plano da Serra do Vimeiro se destaca como se de um dandy se tratasse, sobreponho a cara de um jovem Soares sentado num muro de beira de estrada onde a frase ‘Liberdade de Expressão’ se lê. Ele foi quem, sentado nesse muro, entre as serras de um Portugal dividido, logrou a verdadeira União que uma CEE nos trouxe. Verdade que a iniciativa da adesão já a havia começado Caetano antes, mas o feito que a Esquerda não queria a impôs Mário.

Na versão censurada do quadro, retorcida, uma bandeira portuguesa a ser pisada.
Era um folclore que vinha de Londres, desses dias em que o tumulto da sua chegada para derrubar o novo Regime se fazia contar.
Eu queria deixar essa farpa, mas há farpas que não merecem ser deixadas em vida.

Soares.jpg

Hoje, por todas as razões, mas porque o respeito ainda mais assim o dita, essa imagem foi apagada, vivendo apenas na memória que aqui se descreve. Vive a imagem homenagem, crítica desse Socialista de Santa Comba Dão, algo que o próprio teria honra, numa linhagem de políticos que souberam honrar este país.
O meu in memoriam a Mário Soares.

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