A culpa da responsabilidade deve ter nome. Se antes escrevi, ainda que cifradamente, Em nome de Alguém, hoje venho decretar um Em nome de Ninguém.
A amnésia colectiva em prol do extremismo político, favorável vencedor das múltiplas eleições que se antevem no cenário pós veraneante de 2016, apenas têm ganho com a sucessiva confirmação antecipada das reivindicações de tudo o que são atentados em nome do terror com a chancela do anto-intitulado Estado Islâmico.
O mundo, nosso mundo, sempre foi um lugar povoado por violência, conflicto, desentendimento e ameaça. É dessa condição, tão natural como uma doença que nos infecta e o nosso organismo reage para a combater, que o Homem encontrou forma de se adaptar e tornar melhor chegando até onde hoje se encontra.
Não foi, tal como no caso de uma doença mortífera, um caminho sem fatalidades ou sem a utilização de químicos para uma recuperação mais rápida.
Agora, não precisa ser uma perpétua noção de agressividade onde a resposta se torna um permanente placebo.
As últimas semanas foram marcadas por diversos ataques, nomeadamente no seio Europeu, onde ainda sem que houvesse uma qualquer confirmação oficial, já a a grande imprensa internacional vinculava a autoria por parte do DAESH. Podia que fossem ataques isolados por cidadãos com inclinações potencialmente políticas ou religiosas de qualquer ordem, distúrbios mentais ou qualquer outra razão fora da lógica conhecida, mas o nome DAESH, ISIS, Estado Islâmico, qualquer acrónimo que trouxesse ou fizesse lembrar circulava como facto certo dessa associação.
Esse ‘em nome de alguém’, reconhecido como vinculação de um Mal que mais Mal faz, traz ele também um mal que entre nós o mal gera.
A cada vez que um ataque, ainda que vinculado com a autoria expressa do auto proclamado terrorismo Islâmico, é difundido com essa sanha, é façanha para que o extremismo que aparta o mundo seja maior.
Serve para que os Trumps desta vida, as Marine Le Pen Europeias, ou mesmo a Esquerda populista que invade a América Latina, ganhe força na sua aposta do medo contra esse inimigo reconhecido mas pouco conhecido.
Não sou um apologista do segredo, mas compreendo a logística do ‘need to know’ – o que é estritamente necessário saber – nomeadamente em casos onde o terror, terrorismo, a violência física e gráfica imperam.
Vincular que tal evento teve chancela de um determinado grupo apenas serve para dar maior importância ao grupo, incutindo não só medo nas pessoas, mas um sentimento de raiva generalizado. desequilibra o sentido crítico que se possa – e deva – fazer sobre o desenrolar dos eventos que se vivem numa Sociedade cada vez mais aberta e plural onde a comunicação passa pelas redes sociais e pelo passa-palavra.
O Bullying político feito em torno das questões fracturantes é tanto que gera a custódia da razão onde a mesma não existe. É preciso o bom-senso do sentido e respeito pelo próximo. Compreender que ninguém é dono de nada quando à Pátria de qualquer Nação diz respeito e que os Estados são Soberanos por razão de partilha Comunitária.
Ostracizar o próximo nada mais traz que a divisão e afastamento, não a protecção que muitos políticos prometem.
Invocar o nome do Terror como controlo moral político é rumo dictatorial seguro. Os Turcos que o digam.
Eu prefiro, na irracionalidade que tudo tem tomado partido, parar para equilibrar um pouco o ponto de uma situação complexa, reiterando que nada é tomado em nome de ninguém, mas nunca ninguém me fará refém de si.
…
Nota:
A bandeira retratada na imagem é uma cópia da mesma que foi vista e reportada na Parada Gay de 2015 em Londres, onde os caracteres árabes foram substituídos por acessórios de estimulação sexual.
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