O Deputado Socialista Ascenso Simões, desconhecido da maioria até à polêmica sucessiva dos cartazes que, em última instância, elegeram o actual Primeiro Ministro António Costa, desaparecido em combate político pelos erros por si – digna e raramente visto – assumidos, regressa agora a todo o gás como um, senão mesmo o, membro mais à direita dentro do partido travestido à la extrema esquerda gauche caviar proletária.

Se já antes lancei farpas ao Socialista, hoje irei submete-lo a uma intrínseca análise no meu divã dos políticos em (re)ascensão.

Comecemos pelo princípio, outorgando em mim nenhum poder especifico sobre qualquer juízo de valor moral que possa fazer sobre o cidadão Ascenso Simões. dele tenho a melhor das impressões. Tudo o que dele leio, enquanto Pai de Família e cidadão público aceito e respeito, encontrando até pontos de confluência. Já no que toca à política, sentido de ética ideológica – se isso sequer existe enquanto formação do individuo – é algo onde apresento diversas reservas.

Na última edição da Acção Social, nº 335 de 21 de Julho de 2016, o deputado fala sobre “o governo português da altura [que] deixou fugir o défice, [e] alargou os cordões à bolsa” culpando sempre o governo seguinte, PPD/CDS, por essa responsabilidade, na linha de pensamento Europeu de que foram “as instituições comunitárias [que] mandaram os países investir, gastar, promover o que diziam ser “politicas anti cíclicas”, desresponsabilizando o Partido Socialista de Sócrates de qualquer pedido de ajuda externa. Antes foi “Esse tal governo [que] fez do memorando a sua política, assumiu a função de governanta, cara de pau e má de colher em punho, sovando os portugueses, em especial os mais pobres e a classe média que é sempre aquela que retira a direita do poder quando se porta mal.” glorificando a omissa oposição de então como a actual solução e exigindo que Passos e Portas “sejam julgados. Em política também há julgamentos.”

De facto Ascenso Simões tem razão, importa julgar o Governo do PPD/CDS.
Receberam um país com um défice tremendo, onde as contas públicas vinham sendo artificialmente mascaradas em prol de se vencer eleições, sempre nessa condição que o deputado chama de “políticas anti-cíclicas” como se a inteligência e sagacidade dos políticos Socialistas não fosse capaz de dizer não à Europa ou aos seus desmandos sobre regras económicas antes de uma gravíssima intervenção monetária.

Jamais me esquecerei quando partia para Espanha para trabalhar, fugindo da crescente crise económica que assolava Portugal, ao assistir ao Ministro da Economia Manuel Pinho dizer em alto e bom som que “a crise acabou”. Certo, corrigiu, desmentiu, até chegou a fazer- no futuro – corninhos à política, mas a verdade é que não se decreta um fim à crise. Deixa-se que a mesma passe, interferindo nela de forma pragmática e proactiva, nunca prometendo nada que não seja possível ou passível de ser revertido por lógica de ordem maior. O julgamento político é igual, ainda que os políticos o possam – e devam – fazer entre si, o garante da sua sobrevivência democrática reside no cidadão eleitor.

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Ler a agressividade com que Ascenso pede o julgamento político do PPD/CDS parece querer dizer que durante o tempo que a Troika assentou arraiais por Lisboa, a omissão Socialista não merece um justo e igual julgamento com dolo pela forma como não interveio para resguardar o Estado da Nação.
E aqui entra a admissão teológico-política que Ascenso faz sobre a sua pessoa.

Entre o texto crítico da Acção Socialista e a entrevista que dá ao Jornal i de 22 de Julho de 2016, “Costa devia convidar PCP e Bloco para fazerem parte do governo”, o deputado revela ser um Católico Progressista. Corrijo, é Católico no sentido religioso e Progressista politicamente falando.
Só que lendo a sua entrevista ambas as coisas se misturam e criam uma cisão que mais me recorda essa interessante subversão Comunista dos “Lenine de Jesus” portugueses.
Ascenso é um Homem religioso, com uma Fé na igreja dos princípios fundacionais, estruturais e fundamentais para a lógica do princípio Familiar, mas onde o sentido Conservador não existe, preferindo antes o Progressismo como batuta para a sua visão da vida.
Diz recusar o conservadorismo como visão cristalizante do mundo, entrando aqui num anacronismo sem par. Pretere o Papa Francisco em detrimento de Bento XVI.
Quem sabe o deputado esquece o embate político e religioso que constrói o Positivismo, base filosófica do movimento que, nascendo dos ideais Socialistas Utópicos do conde Henri de Saint-Simon, o filosofo e sociólogo francês Auguste Comte, cria o lema “L’amour pour principe et l’ordre pour base; le progrès pour but.”O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim.

O lema sustenta que o Amor deve coordenar o princípio de todas as ações individuais e coletivas, a Ordem consiste na conservação e manutenção de tudo o que é bom, belo e positivo, e o Progresso é a consequência do desenvolvimento e aperfeiçoamento da ordem. O lema é mais conhecido e reconhecido pela sua utilização política na bandeira Brasileira; “Ordem e Progresso”, onde segue o preceito de “conservar melhorando”, em que se deve conservar e aperfeiçoar aquilo que existe de bom – Ordem – através da correcção e eliminação daquilo que é errado – Progresso.

Um deputado que fala acerca da noção Progressista, seguramente numa vertente Socialista Utópica, condenando um papa que é em si um reflexo do seu tempo e preferindo outro que sinalizava sinais exteriores de riqueza de uma Igreja milenar estafada de si mesma onde o interesse relativo se cobria de dogma e preconceito sem base factual, é o mesmo que pedir contas a um Governo sem se olhar ao próprio umbigo por fazer parte do mesmo.

Dito isto, Ascenso Simões é bastante crítico do Partido Socialista, qualidade que lhe elogio, mas ao mesmo tempo critico pela falta de discernimento que apresenta na argumentação que traz.

Se a arrogância prosaica que a Acção Socialista lhe permite ter têm um quê intrigante, a entrevista acerca do que pensa do Partido Socialista dito ao i revela uma bussola desmagnetizada.

Se o objectivo é que “Há dois PS que necessariamente têm que ser juntos.”, propor como liderança Pedro Nuno Santos parece uma piada de mau gosto quando o rapaz-da-bomba-atómica está mais para o Bloco de Esquerda do que para o Socialismo pop chique que se gerou com António Costa.

Num ponto Ascenso tem razão, o ponto fraco da geringonça é a desunificação partidária, mas não do PS, antes de um Governo que não é uma coligação mas vive coligado. Depois das autárquicas – ou a qualquer momento em que um momento irrevogável se gere – o Primeiro Ministro terá de cumprir palavras dadas que se revogam a cada página virada para trazer a forceps os seus parceiros de hemiciclo para o executivo.

Ascenso não o quererá admitir, mas mesmo não sendo um Positivista declarado, a ideia de Ordem e Progresso habita-o.
Ele sabe que mal o Bloco de Esquerda sinta o cheiro de anseio e poder que a cadeira governativa possui é a condenação global para um Partido Socialista rumo a frangalhos ideológicos. Tudo porque os Comunistas sabem que, mal se tinjam da verdadeira responsabilidade em governar nunca mais se poderão desvincular da perpétua critica que fazem há 42 anos.
A ascensão de Ascenso trata-se disso, ser um São Pedro, apto a trair três vezes para trazer um Salvador face a Judas traidor.

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