Dez horas da noite. No Planalto deserto. A Dilma mercando. Parece um lamento.
“Ê o abará!”
Na sua gamela. Tem molho e cheiroso. Pimenta da costa. Tem acarajé.
“Ô acarajé é cor. Ô la lá io. Vem benzer. Tá quentinho!”
Todo mundo gosta de acarajé
Todo mundo gosta de acarajé
Mas o trabalho que dá pra fazer é que é
Mas o trabalho que dá pra fazer é que é
Todo mundo gosta de acarajé
Todo mundo gosta de abará
Todo mundo gosta de abará
Ninguém quer saber o trabalho que dá
Ninguém quer saber o trabalho que dá
Todo mundo gosta de acarajé
Dez horas da noite. No Planalto deserto. Quanto mais distante. Mais triste o lamento.
“Ô acarajé é cor. Ô la lá io. Vem benzer. Tá quentinho!”
Todo mundo gosta de acarajé
Todo o mundo gosta de acarajé, não só pela delícia gastronómica que é, pela herança histórica que traz de África no Brasil, mas porque ao nome se alia essa conotação comerciável de significar dinheiro em espécie.
Mais a mais porque no desenvolvimento da 23ª fase da operação Lava Jato o nome que a mesma tem, dado haver acarajé, é mesmo Acarajé!
Se o Hino Infractor que unia os semelhantes, entre a lógica de Luiz Inácio Lula da Silva e José Sócrates serem Malandros de dinheiros enviesados, era uma Opera, agora a melodia adaptada que desmascara a pretensão de uma leitura enviesada desse acarajé monetário distribuído ilicitamente nas hostes do PT é a ‘A Preta do Acarajé‘ de Dorival Caymmi.
O pressuposto que a operação tem, e que faço reflexo de uma leitura analítica e expressiva da evolução da canção popular e modernização capitalista no Brasil – segundo estudo elaborado por Walter Garcia – é a de que, da mesma forma que a expressão popular de um certo ruralismo colonialista retentivo desse atraso à urbanidade global se repercute na linha interna do Partido dos Trabalhadores, também o seu inverso é verdade na existência do aproveitamento dessa discrepância entre classes sociais.
A culpabilização dogmática que o ex-Presidente investigado faz, ao hostilizar a presença colonizadora como culpa do atraso educativo Brasileiro apenas demonstra em como a expressão Acarajé – versão frita; ou Abará – versão cozida; são sintoma de um passado cujo estigma se mantém por forma a demonstrar em como a responsabilidade do estado actual não se deve ao agora, mas antes ao que antes o causou.
Claro que será sempre o nosso passado que nos traz ao presente, mas se não existir um momento em que o mesmo se funde com a actualidade, o presente será sempre extemporâneo.
Dito isto, ontem, dia 23 de Fevereiro de 2016, o PT apresentou o seu tempo de antena partidário onde essa realidade da extemporaneidade foi sintonia total de um Brasil em torno do Acarajé que Lula, Dilma Rousseff e os seus correlegionários enviesadamente roubaram.
Deu um panelaço sem surdina, onde mais ninguém suporta o acarajé quentinho.
O Brasil vê-se frito, cozido e até assado, e o sinal máximo, entre a crise da quadrilha corrupta que assaltou o poder, têm o seu melhor pregão nesse registo Internacional quando a última agência que mantinha o float da dívida Brasileira em negociável o colocou no lixo.
Bem pode dizer o que quiser e Dilma, no Planalto deserto, distante, cantando o triste lamento: “Vem benzer. Tá quentinho!”, que ninguém gosta deste seu acarajé.