A vida tem o momento de reflexão, em que a inflexão se faz tamanha simplicidade, que a grandeza desta cidade comunitária se contamina e determina que todos não passamos de iguais, na linha desigual que faz um pretérito passado conjugado futuro.
Ai, nesse instante, quando aquilo que antes se fez escrito é confuso que baste e o raciocínio Humano, feito pedra cal diluída nessa água que faz reacção química borbulhante e ácida, aquece, fuzila, mata e seduz, percebemos que nada importa além desse nós junto de quem faz esse nós um eu próximo de um planalto que se rebaixa em planície de calmaria.
A vida não é a atribulação idiossincrática que se faz crer adversa. Pode, mas esse é a contenda que se permite escolher aquele que prefere o caminho tortuoso ao invés de algo mais próximo, cercano e palpável.
Ser tangível.
Por vezes basta ser como o Eduardo Marinho. Filho de classe média, rumo certeiro a uma vida mediana, curso de Direito, posição no Banco do Brasil, desse sucesso feito de dias cheios de trabalho repetitivo frente a uma tela acrílica, num calendário de expectativa, dos fins de semana de recompensa e as férias possíveis para fazer troca de emoções momentâneas nesse prazer que se garante anualmente.
Eduardo é o reflexo daquilo que se ambiciona ser, não aquilo que ele aspirou ser.
Eduardo desistiu disso tudo.
Foi sem abrigo, viveu nas ruas, nas casas de papelão. Viu a vida desse prisma da Liberdade forçada e do outro lado da realidade que permite que ‘o nosso’ exista.
Nesse jogo de prisões, entre os príncipes e ladrões, na fuga de um Brasil militar frente a uma Democracia de Direitos, Eduardo viu a favela crescer e tornar-se insuportável. Ai, nesse instante, quando aquilo que antes parecia confuso que baste, descobre a simplicidade para uma vida latino-americana.
Por lá, onde as classes são estigma dessa existência de uma colónia perene, tudo remonta a quem está em cima e quem por baixo tudo sustenta.
Escutar a sua narrativa é embater num icebergue Europeu, agora em convulsão, e perceber que apenas existimos porque esse outro Mundo existe e nos permite existir.
Não nos preocupamos com a sua existência a menos que ela nos invada e cause impacto.
Afinal de que precisamos nós?
Eduardo começa por dizer ‘não precisa‘. Ele sabe o quê.
Sabemos nós?
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