Antes de pão e circo, o frete.
Frete a esse alguém cujo o nome já nem se professa como uma Fé de Crença em algo que nos salve.

Não salvará. Não há mais honra numa terra onde a saúde se transforma num bem mensurável por um horário pago que não se faz alienável.

Recordo 13 de Março de 2015, no auge da inquirição à queda do Banco Espírito Santo, quando me questionava “em nome de alguém”? tudo isto teria ocorrido.
Revejo o presente, repetitivo, nesse passado recente.

shylock.jpg

Em Nome de Alguém

Factos e ficções fazem parte das máscaras que usamos para fazer face ao rosto que mostramos.

Belmonte prepara-se para um momento impar de resolução.
Estamos em meados do século XIV e a cidade Italiana recebe individualidades estrangeiras para que a mão de uma das suas mais belas donzelas seja pedida em matrimónio por aquele que for o partido ideal.
Pórcia é seu nome, e a tentação de muitos, que a disputam entre que tais. A formosa Italiana tem apenas uma condicionante para se casar com o marido que o seu Pai decida escolher: escolher um dos três cofres que se encontram no seu Palácio.

Sobre uma mesa estão as três opções:
Um cofre de ouro onde se pode ler ‘Aquele que me escolher ganhará o que muitos Homens desejam’;
Um cofre de prata com a inscrição ‘Aquele que me escolher ganhará aquilo que merece’;
E um cofre em metal onde diz ‘Aquele que me escolher deve dar e apostar tudo em mim’.

Independente da escolhe que seja feita pelo apaixonado de Pórcia, o seu conterrâneo Bassânio, o que está em jogo é o empréstimo feito por este, recorrendo ao seu amigo António, Mercador em Veneza, e que, com as dificuldades de financiamento, usa os préstimos de Shylock, um usurário de capa vermelha, que lhe propõe um acordo em troca do não pagamento de juros.
Se no prazo de três meses António não lhe pagar os três mil ducados emprestados, Shylock terá direito a uma libra de carne do seu cliente.
A amizade cega, na incondicionalidade amorosa de um amigo, fazem o Mercador assinar sem ponderar as consequências do que está estipulado.

A resolução moralista, onde a Justiça Cega, como manda o Direito, impera, fazem do acto final desta História, um enredo jurídico impar.
A impossibilidade, quase previamente declarada, do não pagamento de António a Shylock, designam a aplicação do contrato acordado entre as partes. Uma libra de carne é devida ao agiota, cumpridor objectivo daquilo que se estipulou.
A bem do julgamento que se sabe ver, na justiça travestida, Balthazar, o advogado, defende a ‘Qualidade da Misericórdia’, clara alusão ao perdão necessário, de uma divida impossível de se pagar.

Num confronto final, em que há, de forma profética, um ‘imperativo jurídico’ que se quer impor entre o ‘tudo é possível’ sem que se faça tanto a integração quanto o confronto entre o que é, de facto, real, e aquilo que é ficção, a estipulação contratualizado entre usurário e tomados de empréstimo não deixa claro a condição sob a qual a libra de carne seria extraída do corpo da vítima. No contrato redigido mencionava-se apenas a remoção da libra de carne, não do sangue que a faz viver. Por tal, segundo as leis Venezianas, se tal ocorrer, Shylock incorre numa pena de ver os seus bens e terras confiscados.
O bom senso impõe-se perante o justicialismo oportuno que vigora da palavra que se designa por cegueira, e o Judeu sai derrotado e cristianizado na palavra do Espírito Santo.

A base para a perfeita ficção é sempre a dura realidade da permanente adaptação Humana. António é o Mercador de Veneza, e Shylock a sua antagonista némesis, figuras centrais da obra cómica de William Shakespeare.
Olhando para o travestido julgamento que a personagem principal sofre, ilações Nacionalistas se fazem na apropriação do Conto Veneziano para uma hipotética Lisboa em pleno século XXI.

Os contratos morais que a Sociedade tende a dizer aceitar, são a base de licitação das virtudes políticas que se vendem em Praça Pública. São eles o falso moralismo que nos leva ao populismo da aplicação cega da Lei, intransigente e sem resposta.
Máscara da personagem que dizemos mas não sentimos ser.

Resolvida a resolução, entre as dividas que a dúvida faz criar, a escolha do julgamento final ainda são especulações relegadas ao Quarto Poder.
Do Primeiro ao Quarenta e Quatro, os pretendentes ainda se prefiguram na escarpada Costa, perdulários para escolher o cofre que define o futuro de todos nós.

O empréstimo foi feito, e sobre ele há a certeza de não ser pago, por tal, julgamento final nos espera. Resta saber se a condicionante contratual, nessa escolha do metal precioso, passará pelo sangue derramado?
Em Nome do Pai, do Filho e do…

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.