A organização civilizacional é feita de cedências.
De saber dar a palavra de honra para no seu momento seguinte saber retirá-la em cedência de algo que se faça um bem maior, ou cuja justificação se alicerce numa consequência explicita que, cronologicamente, se comprove mais correcta do que simplesmente certa ou errada.
É um acto de consequência inerente a escolhas aleatórias.
É facto.
Mas quando as cedências se tornam capitulações algo parece não obedecer a um princípio lógico de equidade sobre a cedência da palavra que se honrou e depois se retirou.
Evidente que tudo depende da real ameaça escondida por trás do estimulo a uma capitulação forçada, ou então à clara declaração de guerra.
Ou à falta de.
Quando a 7 de Fevereiro de 1962 se dá inicio ao embargo económico, comercial e financeiro imposto a Cuba pelos Estados Unidos da América, as suas razões de ordem militar convertidas em cartilha ideológica, o que foi na verdade um excedente de açúcar vendido ao inimigo Soviético, tornou-se no sofrimento imposto sem escolha ao Povo Cubano, por opções de ordem política do seu recém eleito, futuro, ad eternum, ditador Comunista, Fidel Castro.
O embargo ainda não terminou formalmente, mas o seu fim foi declarado com a abertura das conversações entre os dois países, quando a 17 de Dezembro de 2014 o Presidente Obama levantou as proibições impostas por Kennedy e declarou que seriam abertas embaixadas entres Estados Unidos e Cuba.
A capitulação dos Estados Unidos perante razões de cariz Humanitário, daquilo que faziam impor, mesmo perante a teimosia de um partido totalitário, regime ditatorial, em que a ideologia fazia supor uma supremacia inabalável, estavam no limite daquilo que Cuba poderia suportar perante o que a força Norte Americana representa no Mundo Real.
E com isto, redefinindo a palavra capitular, em que esta rendição passa de vergonha a elogio, o Comunismo per se mostrou a falácia da prepotência.
“Nenhum Homem é uma Ilha”, e como tal, não é no isolamento que se sobrevive.
Pegando nestes conceitos de capitulação, amizades ideológicas e isolamento, algo semelhante ocorreu com a Grécia.
Só que o seu embargo foi à nova velocidade: viral.
O apoio que a Europa dá à Grécia não é o mesmo que os Estados Unidos davam a Cuba, mas ilações disso se podem retirar.
Basicamente a subida ao poder de uma linha ideológica contrastante com a vigente no seio Europeu rompeu com uma tradição de equilíbrio e negociações à porta fechada.
O seu objectivo, Democrático, seria tão licito quanto o dos restantes Estados Membros, mas com a memória de uma herança de ajuda, baseada no cálculo da mentira.
O passado anterior, de emprestar e aplicar medidas que a serem cumpridas não o foram na totalidade transversal, resultou no claro pedido de um terceiro resgate que a nova força política fingiu querer evitar.
O embargo Europeu à Grécia ocorreu no momento em que a guerrilha, feita de ameaças como a promessa de deixar entrar Terroristas do DAESH na Zona Europeia, ou as sucessivas tentativas de negociar um acordo com a Rússia, atinge o seu golpe imediato: não há excedente bancário, referendou-se a vontade soberana.
E assim foi: Oxi – Não à Europa da austeridade.
O embargo bancário, iniciado a 25 de Junho de 2015 terminou na segunda 20 de Julho, três semanas depois, provocando um caos nunca sentido na zona Euro desde finais da Segunda Grande Guerra.
O acordo firmado entre a União Europeia e a Grécia foi a capitulação do Euro.
Se por um lado a Grécia cedeu perante o seu Direito Democrático de um Governo eleito para se transformar num equilíbrio negociável, a União Europeia foi feita ceder ao peso que uma moeda única tem no balanço final da Soberania ideológica da Liberdade Democrática.
De facto nenhum Homem é uma Ilha…
Diria que a Europa foi um ‘testa-de-ferro’.
Mas a razão de contágio na sequência seguinte é lógica, ainda que debatível.
Tem que ver com a relação entre o Produto Interno Bruto (PIB) a Balança Comercial e a compra de dívida entre Países.
Enquanto o PIB tem que ver com a produção de riqueza de um País, a Balança Comercial é o diferencial entre aquilo que importa e exporta, e a compra de dívida de um País é isso mesmo: comprar algo que se deve e se paga num futuro próximo (com juros).
Por razão de consequência e produção de riqueza será mais rico o País que exportar mais e importar menos, com mais capacidades para pagar a sua divida e respectivos juros.
Ou não.
Os Estados Unidos têm dos PIB per capita mais elevados no Mundo e uma Balança Comercial deficitária visto importarem a maioria dos seus bens de consumo.
Já a Europa tem, a todo o custo, equilibrar-se. Enquanto a razão de proporção de compra de divida entre países tem que ver com a sua capacidade monetária de investimento, in loco, in situ.
Assim sendo, por razões de lógica monetária – ou de quem produz a nossa razão de subsistência monetária:
A Grécia foi o testa-de-ferro da Europa.
Já a Europa é o testa-de-ferro dos Estados Unidos da América.
E esses? Esses são os testa-de-ferro da China.
Bastou um telefonema de Obama para Merkel que o Grexit ficou destinado a uma trágica calenda germânica baseada na parceria democrática entre as potências Europeia e Norte Americana, e um acordo firmou-se na renovação de um partido feito manso pela lógica de equidade Europeia.
Por outro lado basta os Chineses emitirem um estado de graça para a Americana Nação não achar graça nenhuma.
Não só os seus investimentos pelo Mundo conquistam território de forma pacífica, como são eles os maiores detentores de dívida Americana.
Não é garante nenhum de Soberania. Para ninguém.
Pois no final, citando a profética frase do livro “Devoções em Ocasiões Emergentes” de John Donne: “Nenhum Homem é uma Ilha”.
Nothing’s too big to fail.*
(Nada é grande de mais para falhar)
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