Ver o reverso do contrário é algo anti-natura.
Não só porque a construção frásica é um contra-senso em si próprio, como ver o contrário de algo que está de pernas para o ar é, desde logo, possibilitado.
Na verdade, ao se ver o inverso de algo está-se a ter olhar mais amplo e completo.
Menos dogmático, mais imparcial, mais justo e objectivo.
Ou nem por isso.
É que a questão de ser dicotómico, e nisto tudo se aplica – mesmo quando uma verdade contém diversas mentiras; é estar nesse esquema transversal da Sociedade Global: os antípodas.
Se a questão dos antípodas começa justo pela geografia que cria climas e situações orográficas que relativizam a existência do Ser Humano, essa sua aplicação torna-se palpável a partir do conceito mais Universal e agregador da espécie: a sua Cultura.
Consideramos, por razão de educação e ensino, passado de geração em geração, que a nossa Cultura é a base da correcta civilização.
Ou pelo menos é a que nos é sintomática.
Estou a fazer razão cega da aplicabilidade do indivíduo. Vou generalizar.
A Cultura é o que nos une enquanto iguais num determinado grupo, e a Arte que a mesma produz, o elemento de comunicação que permite o contacto e confronto entre a diferença.
Mas vivemos nos antípodas da Cultura e da Arte.
O que escolhemos ser melhor, no nosso mundo, agrada-nos e faz pertença daquilo que assumimos ser nosso.
O resto é o restante.
Um irreconhecível antípoda, longínquo e distante, tecnicamente considerado inferior ao auto denominado gosto.
E esse é toda a base do preconceito.
Somos nós ou eles Senhores do Mundo?…
E como são todas as coisas feitas para o Homem?–
Kepler
(citação de ‘The Anatomy of Melancholy‘)
Onde está essa resposta senão no contágio permanente que faz de nós uma Sociedade una e interligada.
Olhando para trás na História do Homem, antes da descoberta sobre a planície original de África, na Etiópia, a razão da transferência que nos fazia comunicar, ainda que sem consciência desse facto, eram as doenças que nos transmitíamos.
Aqui não entram razões de ordem genética óbvia, ou pelo menos estudada sobre quem em nós teve mais chances de sobrevivência.
Viver nos antípodas era um garante tão seguro quanto estar no lado inverso para a sobrevivência perante um vírus que se propagasse e chegasse a tempo de ferir de morte uma Sociedade de preconceito.
Logo a Arte feita Cultura era chamada a actuar, e os garantes processuais da crença entravam em acção, sem que se soubesse que na maioria dos casos a salvação vinha justo por causa desse antípoda original: a geografia física que impedia a transmissão.
Hoje mais não.
A cultura dos antípodas é a subsistência de um politicamente correcto que faz da invasão a sua forma de permanência.
Vivemos num contágio indiscriminado onde a tolerância é total.
A pergunta que se coloca é: ate quando?