“The best laid schemes o’mice an’men
Gay aft a-gley
An’lea’e us nought but grief an’pain
For promised pay.”

A citação escocesa de autoria de Robert Burns não poderia servir melhor para descrever os meandros de simplicidade complexa em que se encontra a Grécia actual.

Na sua tradução para português o pequeno verso diz:
“Os projectos melhor elaborados, sejam de ratos ou de homens, fracassam muitas vezes e só nos trazem tristeza e sofrimento, em vez do prémio prometido”.

A expressão “o’mice an’men” ganhou, inclusive, direito a livro próprio na obra de John Steinbeck com o famoso ‘Of Mice and Men’ – Ratos e Homens; de 1937.

Nele retrata-se a vida de dois simplórios, George, de pequena estatura e esperteza adquirida; e Lennie, um brutamontes com a mente autista de uma criança.
A dupla errante, viajando pelo interior profundo dos Estados Unidos da Grande Depressão da década de 1930, procura uma fazenda para trabalhar, sempre com o plano de comprar um acre de terra e nele construir a sua própria fazenda, conseguindo independência financeira.

O drama que aflige os Homens é serem verdadeiros ratos na sua forma incapaz de saberem lidar com a adversidade da vida.
Se por um lado Lennie não sabe controlar a sua força mas tem o desejo de amar, George vê-se forçado a fazer uso da sua sabedoria bem falante por forma a vingar o volte de face que a trama amorosa dá.
O final é piedoso, grotesco e revoltante, mas estranhamente Humano.
Quem sabe até justificável, se justificação para o acto em causa há.

É George um Homem ou um Rato?
O que somos nós todos?

A aplicabilidade do enredo, na sua génese literária da analogia entre ser-se um Homem ou um Rato, entre a coragem e bravura, ou o acto irreflectido que nos leva à inconsequência mortal, são questões que se aplicam, quase a decalque, à situação Grega perante os injustos esquemas Europeus.

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Seguir a intransigência Europeia, de 27 Estados Membros que, quase todos, querem forçar a  Grécia a uma bancarrota por gosto, é achar que somos um bando de suicidas com “responsabilidade criminal”.
Na verdade essa responsabilidade, ao não poder ser imputada aos amigos que se dizem preocupados com o Povo Grego, imputa-se ao FMI, uma vez que, ao não serem o maior contribuinte para a sustentabilidade das contas Gregas, são eles a entidade Internacional que faz desta jogada um cheque mate complexo.

Na incerteza far-se-há o controlo de créditos, impossibilitando o levantamento e transferências bancários até determinados montantes, a moeda dentro do espaço físico Grego terá uma limitação de utilização, e em última análise, caso a isso se chegue, para existir uma sustentabilidade a longo prazo, e a Grécia possa ter um rendimento interno que a capacite perante os credores externos, será a existência de uma moeda interna.

Em comparação desmedida – por dimensão territorial, claro; poderá ser igual à China, uma espécie de Renminbi que serve para uso interno, enquanto a moeda franca Chinesa continua a ser o Dólar.

Independente disso, e Wolfgang Munchau já o disse, a Grécia não perde nada em dizer não aos credores, pois é facto que, depois da queda do Lehman Brothers – pedra basilar na crise de 2008; o Mundo Ocidental sabe que nada é ‘too big to fail’, e assim sendo, a salvação dos ratos será feita por Homens.

“Porque o importante não são os Governos, mas as Pessoas.”

E a Grécia não é um brutamontes tipo Tsipras, um esperto e bem dizente Varoufakis ou o acre de terra para uma fazenda Syriza.
São os Gregos, Europeus como nós.

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