As grandes guerras não se travam no plano das batalhas bélicas.
Essas, mesmo que durem cem anos, na verdade alicerçam-se no plano das ideias.
As ideias, essas sim, podem provocar mudanças circunstanciais nas vidas de todos. Se antes, em tempos de imposição religiosa se vivia uma Santa Inquisição, hoje, em tempos de créditos forçosos, vive-se o tempo de uma Santa Imposição.

Lembro-me das memórias do passado que me foram passadas via paternal, de uma bisavó que guardava, na sua lata octavada de chá, um maço de notas de vários valores.
Era o tempo capital do Escudo. Salazar ainda Governava, e no rescaldo de uma guerra vivida na neutralidade, as sucessivas inflações e incertezas no amanhã, fizeram-na guardar o pecúlio para dias piores.

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Quando o meu Pai descobriu que a sua avó amealhava tanta fortuna de forma pouco segura, logo lhe disse ser melhor assegurar-se e depositar as notas – algumas já fora de circulação; num Banco.
Ela, sapiente e vivida num tempo de senhas e real poupança monetária, assentindo a um neto pragmático, disse-lhe que sim, a medo, dizendo-lhe que não confiava nos Bancos – é que, e apesar da confiança da sua descendência, ela já vira antes Bancos centenários, casas de confiança e reputação, falir, fechar, e o dinheiro nelas depositado, ir-se sem retorno.

Claro que a confiança nos tempos de guerra, mesmo sem ser bélica, na neutralidade “Salazarenta” que nos querem fazer passar como algo má, era algo falível como a da actualidade no sistema bancário.
Num princípio de redundância: Garantir um risco é esperar que ele não o seja. É mera ilusão.

E como a ilusão do “free for all” que a Comunidade Económica Europeia nos vendeu trouxe com ela a imposição do “credit card”, o maço de dinheiro amealhado na lata de chá octavada, por segurança e inflação, em vez de existir no plano real táctil, passou à ilusão plástica da imposição.
Só que o risco que a confiança trás não é assegurado por nada mais que a ignorância de nos sentirmos seguros.
E como se tem visto, sem dedos apontar, algo Imposto nos anda a suceder, pois na última década 6 Bancos Privados foram intervencionados pelo Estado para não declarar falência, sendo que um deu enormes prejuízos ao Erário Público, e o outro está em angariação de comprador.

Evidente que as memórias do passado, a mim passadas, não servem mais que para me garantir que tudo já, antes, aconteceu.
Da mesma forma, perante tantas ideias políticas de novas formas de taxar Bancos e sistemas Financeiros que nos sugam o dinheiro, protegendo assim o ‘Povo’, apenas vejo a viciação que adquirimos com a inexistência táctil do papel.
Porque esse risco eu garanto que corremos: se ao invés do Estado taxar os cidadãos, taxar os Bancos, é ‘chapa ganha/chapa gasta’ que os Bancos nos vêm cobrar a nós.

Para os ‘ideialistas’ direi Santa Ignorância, para quem percebeu: Santa Imposição.

A corrupção, a monetária, que tanto se fala, sempre existiu. Seja no verdejante dos campos de futebol, no estéril dos balcões dos bancos de crédito, ou até na máfia que tantas mortes provoca.
O que tem sobressaído, e sim, de forma diferente, é a dimensão que atinge.
Antes havia, mas em menor dimensão económica, pois a quantidade monetária a ser mobilizada, espoliada, roubada ou desviada, não era tanta.
Agora há mais.

O dinheiro não tem mais o seu padrão ouro. Vale aquilo que o digital assegurar que ele vale.
Nada e Tudo.
O mesmo que o contrário.
Em simultâneo.

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