Há conceitos que, de tão simples e lineares, se enraízam no erro comum do ter e ser, que por vezes se tornam no erro que se assume dos outros.
Nesta ‘nova’ Sociedade Moralista, onde um ‘puritanismo’ absoluto, de que o erro alheio é a certeza de que ‘nós’ somos, na versão de cada qual que se sente um acusador mas nunca acusado, humildes, sinto-me alienado de uma qualquer realidade concreta.

Semânticas à parte, fico-me por um Ser/Ter de definição.
É que eu, por exemplo, sou muitas vezes julgado como não sendo humilde.

E disso, com a maior franqueza e sem falsos moralismos, assumo, eu não sou.
Nunca fui, nem sei sê-lo. Até me pergunto quem é aquele que assume sê-lo?

Mas vamos perceber, afinal, o que trata a humildade, esse sentimento ambíguo, do qual não tenho a característica de possuir, mas saber ter.

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Para começar, indo à etimologia, à raiz da palavra, sua origem, a palavra ‘Humildade’ vem do latim humilitas, e é a virtude que consiste em conhecer as suas próprias limitações e fraquezas e agir de acordo com essa consciência.
Refere-se à qualidade daqueles que não tentam se projectar sobre as outras pessoas, nem mostrar ser superior a elas. A Humildade é considerada pela maioria das pessoas como a virtude que dá o sentimento exacto do nosso bom senso ao nos avaliarmos em relação às outras pessoas. Características como cordialidade, respeito, simplicidade e honestidade, embora sejam frequentemente associadas à humildade, são independentes. Portanto, quem as possui não precisa necessariamente ser humilde.

A definição, evidentemente, não é minha. Retirei-a da Wikipédia. A nefasta e nada humilde Wikipédia, que seguramente não terá o bom senso que nos explicar o que é a humildade.

Mas sem ilações de estilo, no fundo, ao que se lê, se alguém ainda ler, a humildade é justo isto, saber respeitar o próximo neste perpétuo entendimento de igualdade que faz tábua rasa da razão.
Ou como definiria eu: elevar à condição de Santo em vida quem praticou o milagre por comprovar na sua morte.

Ou seja, esta ideia de que temos de ser humildes é um conceito vago que falsos moralistas, ou os puritanos da verdade, gostam de apregoar como a sua forma de defesa perante o facto de que, quem pode ser como é, sem se ter de justificar, o é pelo simples facto que pode. Ou quer.
Humildade é algo que se tem.
Ter humildade para reconhecer o erro, saber pedir desculpa, olhar o outro ao mesmo nível, e ter o bom senso de não precisar apregoar que se é humilde, pois essa virtude, se virtude for, é nos relegada por alguém na sua observação externa.

Sinto uma ausência de humildade em quem não compreende a diferença entre ter amigos que nos dão algo ou emprestam, e o que a diferença semântica do acto significa.
A clausula temporal é aplicável nesse retribuição. Da mesma forma que o ser-se humilde é algo relegado à posteridade, algo dado não tem de ter retorno objectivo. Já algo emprestado pressupõe, num determinado tempo, um retorno de empréstimo.
É simples humildade?

Eu faço o acto contraditório, numa clara assumpção, perante o óbvio de não me poder assumir ser algo que sei que não sou, e digo, no meu respeito pelos outros, nesse reconhecimento de igualdade, de Direito Democrático, e de saber que não sou mais que ninguém: eu não sou humilde.

Ser e ter, dar e emprestar. Diferenças assumidas.

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