Ver a defesa que os assíduos leitores dos escritos e vociferações pacificas de Gustavo Santos é compreender, quem sabe, um pouco a incapacidade de raciocínio prático de muitos, bons, Cidadãos Portugueses.
Ao dar uma opinião contraditória a qualquer ideia que o ‘life coach’ profere, em que separa os ‘básicos’ dos demais, sou atacado como se a minha opinião não fosse tão ou mais válida que os fieis seguidores de Gustavo.

Suponho que quem lê Gustavo não vê Gustavo, e quem vê Gustavo, não lê Gustavo, numa repetição repetitiva, ad eternum (expressão em latim que significa ‘para sempre’, infinito), pois fazer as duas coisas em conjunto, complementam aquilo que vou fazer: analisar, de forma pragmática, Gustavo Santos.

Num país que viveu, vive, viverá, obcecado com as formações profissionais e os graus académicos, onde todos querem ser ‘doutores’, é de facto extraordinário ver um Cidadão Português que, formado em Educação Física, consegue ter uma prolixa carreira a curar a mente dos outros.
Suponho que Gustavo, depois de uma carreira profissional diversa que abarca o Humor no Programa ‘Malucos do Riso’ na SIC, o talento Vocal, numa banda musical, e a Fama no Big Brother Famosos, segue o conceito de ‘Mente sã, em Corpo são’.

Só que a sanidade mental não depende do conceito do Empirismo, ou seja, da apropriação do conhecimento adquirido da experiência sensitiva. Também é parte, mas não todo. O conceito explicativo da ‘auto-ajuda’, concreta, baseada no estudo da mente (e essa não é aquela que nos mente todos os dias), foi estudada nos últimos séculos por Grandes Pensadores, Filósofos, e pessoas com formações pessoais, profissionais, e Humanas, mais profundas e diversas que Gustavo.
Suponho que a ida de Gustavo tenha sido profundamente complicada, complexa, cheia de adversidades e agravos, lições e ilações a ensinar, num conhecimento (apropriando-me de uma palavra sua) egóico, em que tudo o que diz, profere, ensina e transmite, são as experiências de uma vida, de facto, cheia.
Eu não acredito na necessidade de se ter que ter vivido para se compreender algo, mas de facto, em questões de passar experiências e motivações pessoais, ajuda.

Sobre a forma expressiva de Gustavo Santos se exprimir e fazer passar a sua palavra. Gustavo é o ‘one man show’ (expressão inglesa que significa ‘espectáculo de Homem só‘, no sentido de alguém fazer tudo), gesticulando de forma pensada e ensaiada, numa coreografia que seguramente aprendeu no seu Curso de Grau Superior.
Ouvir o bater ritmado de algumas palavras chave com o movimento das mãos e dedos, tendo como pano de fundo uma imagem da cidade Norte Americana, Nova Iorque (refiro-me aos vídeos de entrevista, motivacionais, que estão no YouTube) é compreender o tipo de público que Gustavo Santos pretende alcançar.
Prefiro não me alongar demasiado na análise critica sobre o que Gustavo Santos diz nos seus vídeos virais, mas fico-me apenas daquilo que retive:
“A mente chama-se mente porque nos mente todos os dias.”
A frase não é minha, é de Gustavo Santos.

Em Português o significado da palavra ‘mente‘ vem do Latim significando intelecto, pensamento, entendimento, espírito (SÉGUIER, LELLO & LELLO, 1966).
Em Francês existem três palavras para designar mente: sprit, âme e idée.
A primeira significa: espírito, alma, faculdade de conceber de um modo vivo e rápido e de se exprimir de uma maneira engenhosa e picante. A segunda: alma, espírito, vida. A terceira significa: idéia, imagem, recordação. (VINHOLES, 1950).
Em Idioma Internacional Neutro: Esperanto, existe três palavras para designar mente: menso, intelekto e imago.
A primeira significa: mente, entendimento e espírito, no sentido da parte pensante do espírito, o intelecto que contrasta com o corpo. A segunda: inteligência, intelecto, faculdades intelectuais e mentais. A terceira: imaginação no sentido de senso mais amplo do que fantasia, a qual tem apenas alguma qualidade de espécie de imagem. (BRAGA, 1965).
Em Inglês, chama-se mind, significando: espírito (como intelecto), mente, cérebro, pensamento. (HOUAISS & CARDIN, 2002).
Em Grego, não há uma palavra específica para mente, mas o dicionário indica como possibilidade a palavra que designa inteligência. Para esta, indica como sinônimos, as palavras: diánoia(as), noûs(ou), sýnesis e pneyma(atos).

Aquilo que Gustavo Santos fez, de forma ligeira, foi confundir a palavra ‘mente‘ com o conjugação verbal, na terceira pessoa do singular no presente, do verbo ‘mentir‘. São palavras homógrafas e homófonas, apenas isso, nada mais. Tudo o resto é retórica populista da ilusão.

Egoíco Gustavo.jpg

“O presente, quando dividido em dois é o pré-sente, o antes do sentir”
A palavra ‘presente‘ é um adjectivo ou substantivo que expressa o que existe ou acontece no momento em que se fala ou que está no tempo actual, assistindo a um acontecimento pessoalmente.
Deriva do termo em latim ‘praesentia‘, que significa alguma coisa que está perto, ao alcance de alguém.
Um presente também é considerado uma dádiva ou lembrança, ou seja, uma coisa que é oferecida a outra pessoa como sinal de apreciação.

A nível gramatical, o presente é um tempo verbal que indica que a acção acontece no momento em que se fala. Apesar disso, em algumas situações, este tempo verbal pode estar relacionado com o presente ‘actual’ ou ‘real’.
Nunca, em nenhuma classe gramatical da Língua Portuguesa, ou proposta vigente de Acordo Ortográfico, está dito que a divisão da palavra em dois, numa perversão da origem etimológica da mesma, a palavra ‘presente’ possa significar ‘antes do sentir’.
É só mais uma frase dogmática que Gustavo Santos faz uso para vender as suas ideias simplistas, insultando a inteligência adquirida ao longo de séculos pela Humanidade.

O que Gustavo Santos faz, apesar de utilizar o nome pomposo em inglês de ‘life coach’, treinador para a vida, é uma apropriação das ideias de auto-ajuda que proliferam nas estantes das livrarias um pouco por todo o mundo, e que se tornaram mantras para pessoas que, em desespero pessoal, por falta de capacidade financeira, acorrem ao que podem: livros. Esses são mais baratos que um psicólogo, um psiquiatra, um psicanalista, um Profissional Médico formado para ajudar alguém em necessidade.

Nesse sentido, e seguindo, já agora, a linha de pensamento e técnica explicativa de Gustavo Santos, a auto-ajuda são duas palavras: auto e ajuda.
Ajuda é aquilo que você precisa. Auto vem de autonomia.
Autonomia vem de Autónomo. Autónomo vem de Indivíduo, e indivíduo de um.
Um é o número inteiro indivisível.
Logo, auto-ajuda é ajudar-se a si próprio, sem precisar de ninguém.

Gustavo Santos, és um, auto-ajuda-te.

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