Recentemente um video, excerto da Conferência “Racismo e Avanço do Discurso de Ódio no Mundo”, protagonizado por Mamadou Ba, fez-se viral por incluir uma citação ‘como sugeria’ Frantz Fanon “Nós temos é que matar o homem branco”, contextualizando, “Para evitarmos – como dizia Orlando Patterson – a morte social do sujeito político negro é preciso matar o homem branco, assassino, colonial e racista”.

Evidente que a divisão ideológica, renhida nas redes sociais, não se fez esperar e se da esquerda de Mamadou veio a defesa face aos ideiais apresentados, do seu eixo centro-direita veio a opinião contundente que não se resolve qualquer tipo de racismo ou discurso de ódio apelando a racismo ou discursos de ódio. Mais, creio ser oportuno, nomeadamente no Portugal do século XXI, compreender esta ideia do que é o paradigma da Descolonização hoje e o Direito à Autodeterminação que a todos nos assiste.

Começo por um pensamento que me assola faz tempo e cuja explicação não encontra maior anacronismo que a própria cronologia: a Descolonização per se, acto isolado descrito como a emancipação dos territórios coloniais em relação às metrópoles colonizadoras, é uma fraude. E não o escrevo com ânimo leve, antes pelo contrário. Penso, escrevo e digo-o com esta noção de que ao se quebrar um prato, mesmo colando os seus cacos, as marcas desse feito permanecem. O mesmo com uma ferida feita cicatriz, um trauma que aflige.
E não desmereço nenhum processo intitulado de descolonização. Antes pelo contrário. Agora não posso – nem podemos ou devemos – ser complacentes com a ideia da tabula rasa, de um novo início baseado numa mentira sem alicerce. A ideia de que o passado se apaga por se ignorar, omitir, editar ou não falar do mesmo é um erro grosseiro com consequências (e ramificações) a longo prazo.

Barbara Jones–Hogu (b. 1938), Unite, 1971

Evidente que não estou a ignorar os séculos de colonização nem o seu impacto histórico ou legado de atrocidades humanas.
A noção e necessidade de sermos globais e vivermos numa comunidade mercantilista-económica-capitalista desenvolveu o mito da supremacia do ‘homem branco’ como domínio bélico e intelectual, mas esse acto falho advem também do preconceito que, ao longo do tempo, induzido é uma mentira.
Não só a Demografia Mundial o desmente, como toda uma instituição que desarma o racismo – da qual faço parte – existe para fazer deste um mundo melhor.

A ideia de Fanon de que a “libertação nacional, renascimento nacional, restituição da nação ao povo, CommonweaIth, quaisquer que sejam ás rubricas utilizadas ou as novas fórmulas introduzidas, a descolonização é sempre um fenômeno violento” vai de encontro com uma inferioridade sobre a relação enquanto ente que prefere o arquétipo racial como desculpa para um estigma induzido, própria do seu tempo, descontextualizada na actualidade onde buscamos o consenso em detrimento da violência ou guerra como fito comum.
Erguer muros quando se pretendem construir pontes é um ardil perigoso, e é nesse erro que a fala de Mamadou cai, abrindo uma brecha populista entre o extremo em que se encontra e alimentado o seu igual em eixo oposto. Não, descolonizar – ou independizar – hoje não deve ser um fenômeno violento, ou em si incluir tal linguagem. É algo que, sem pertença política, cabe ao superior direito à Autodeterminação de um Povo que, ao se ver indevidamente conquistado, o deve exercer como consequência do mesmo.
O passado não se reescreve ou emenda, mas dele se aprende a não repetir igual futuro.

E aqui se coloca a lícita questão sobre a independência da escolha que fazem os que se tornaram independentes:
Porque olham para ‘nós’ com um olhar tão crítico se quando ao vermos as suas melhores práticas as mesmas não se espelham nos melhores exemplos que almejam ter?
Críticar em casa alheia é fácil. Implementar em casa própria é dura missão.

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