Uma pertinente questão assombrou-me o pensamento por anos a fim; Será que sou a favor da pena de morte?
Por defeito digo que não. Claro que não. Não sou um criminoso que mata, logo não me revejo nesse reflexo assassino que diz “mata” ao próximo só porque esse mesmo matou.
Mas por outro lado – e esta questão intensificou-se no pós 11 de Setembro – não merece um terrorista a pena de morte? Não merece quem conspira contra os superiores valores Humanos ser deles afastados?
Não deveríamos aniquilar todos os terroristas do Estado Islâmico?
Ou ao fazê-lo não nos tornamos tão iguais a eles?
Deve um igual ser morto por crimes cometidos?
Onde se traça esse limite entre quem merece a pena de execução ou a prisão perpétua?
Onde resta essa humana Humanidade de que se faz o Homem?
“Matt morreu oficialmente às 12:53 da manhã de segunda-feira, 12 de outubro de 1998, num hospital em Fort Collins, Colorado. Na verdade, ele morreu nos arredores de Laramie amarrado a uma cerca na quarta-feira anterior, quando você o espancou.
Você, Sr. McKinney, com seu amigo, Sr. Henderson, matou o meu filho.”
Há duvidas existenciais que nos perseguem e cujas respostas nunca saberemos com garante de certeza, mas há outras que o sentido arrepio na pele basta como assertiva resposta.
Matthew Wayne Shepard tinha 21 anos quando foi brutalmente espancado, amarrado a uma cerca e deixado à morte pelo facto de ser homossexual.
Ódio, preconceito e juízo moral deturpados com laivos de violência, fizeram-se força física para roubar a vida de um jovem que nada mais fez que ser quem era.
Um ser a ser abatido. Um crime cometido. Uma resposta que não quer calar.
Se a alguém se lhe rouba a vida, deve aos autores do crime dar a mesma pena?

Dennis Shepard, pai da vítima dá essa resposta e a conclusão que por anos busquei:
“Em nenhum momento, desde que Matt foi encontrado na cerca e levado para o hospital, Judy (a Mãe) e eu fizemos quaisquer declarações sobre as nossas crenças sobre a pena de morte. Achamos que isso seria uma influência indevida sobre qualquer potencial jurado.
Judy foi citada por alguns grupos de direita como sendo contra a pena de morte. Foi afirmado que Matt era contra a pena de morte. Ambas as afirmações estão erradas.
Mantivemos discussões em família e conversamos sobre a pena de morte. Matt acreditava que havia incidentes e crimes que justificariam a pena de morte. Por exemplo, ele e eu discutimos a morte horrível de James Byrd Jr. em Jasper, no Texas. Na opinião dele, a pena de morte deveria ser aplicada e nenhuma recurso poupado para levar os responsáveis por esse assassinato à justiça.
Mal sabíamos que o mesmo ocorreria envolvendo o Matt.
Eu também acredito na pena de morte. Eu não gostaria de nada melhor do que vê-lo morrer, Sr. McKinney.
No entanto, este é o momento de superar mágoas. Para mostrar misericórdia a alguém que se recusou a mostrar qualquer misericórdia. Para usar isto como o primeiro passo pela perda do Matt. Sr. McKinney, não estou a fazer isto por causa da sua família. Definitivamente, não estou a fazer isto por causa das pressões grosseiras e injustificadas da comunidade religiosa. Se alguma coisa, isso endurece a minha determinação em vê-lo morrer.
Sr. McKinney, vou lhe conceder a vida, por mais difícil que isto seja para mim, por causa do Matthew. Para que sempre que você comemora o Natal, o aniversário ou o 4º de julho, lembre-se de que o Matt não o celebra. Sempre que você acordar naquela cela, lembre-se que teve a oportunidade e a capacidade de interromper as suas ações naquela noite. Sempre que olhar o seu companheiro de cela, lembre-se de que você tinha uma escolha, e agora vive essa escolha.
Você roubou-me algo muito precioso, e eu nunca lhe vou perdoar por isso. Sr. McKinney, dou-lhe vida na memória de alguém que não vive mais.
Que tenha uma vida longa e agradeça a Matthew todos os dias por isso.”
O limite perpétuo da escolha entre a vida e a morte traça-se sempre pela vida. (mesmo quando – se assim se decidir – a eutanásia se fizer presente)
Nada vive além da vida. E não cabe ao Ser, ao Humano que vive neste Ser, escolher como o outro, nessa desigualdade capital, deve deixar de viver.
Pelo contrário. Deve ser dada a chance de viver nesse paradoxo analítico sobre quem domina quem; se é o sentimento que nos domina ou nós que o dominamos.
No amargo rancor de viver os repetidos nascer e por-do-sol de uma vida restrita a pensar nas escolhas que levaram alguém a tomar uma determinada decisão.
Uma vida nunca vale outra.
Desejar a morte de outrem é desejar a própria morte.
Nisso concluo que sou contra a pena de morte. Sou a favor da vida.
Que ela seja larga, longa e o perfeito reflexo das escolhas que tomamos.
(o perdão é outro tema)
Nota:
Transcrição, tradução e edição parcial da Declaração ao Tribunal, em 1999, que Dennis Shepard leu ao assassino do seu filho Aaron McKinney.