As Europeias tiveram um gosto de jogo de póker. Número fixo de participantes onde o prémio total foi dividido entre os jogadores, nessa noção permanente de que a riqueza não multiplica, meramente se redistribui.
O factor novo da cartada foi esse que juntou Portugal aos que se desapegam da união e o tornam avesso a tudo o que nos devia fazer europeus e antes faz complacentes de quem prefere celebrar vitória num dia de derrota eleitoral: abstenção.
Com uma abstenção de 69%, um recorde, eu não encontro razões para qualquer partido celebrar a sua vitória de pirro quando se pensar que em cada 10 eleitores apenas 3 votaram.
Isto significa que nem os próprios eleitores partidários se deslocaram para esse efeito, e as projecções que as sondagens trazem apenas demonstram algo: a derrota nacional de um sistema alicerçado no nepotismo corrupto das carreiras políticas.
Vejamos:
Abstenção – 69.21%
PS – 10.39%
PSD – 6.87%
BE – 2.98%
CDU – 2.06%
CDS-PP – 1.87%
…
É de um miserabilismo atroz que confrange qualquer um que tenha celebrado com júbilo a sua vitória perante tal fracasso.
A Direita percebeu isso, e mesmo saindo equilibrada dentro do panorama Europeu – e é disso que se trata -, assistimos ao triste espectáculo em ver o Partido Socialista unido às forças anti-europeias gritar que foi a Direita a derrotada.
Derrotados fomos todos. Sobretudo lembrando que a Geração Abstenção foi educada pela Geração Europa, aquela que mais recebeu e ganhou com a entrada de Portugal na CEE, e que deveria ter passado o ensinamento sobre esse logro tornado vitória.
Mas Democracia é facilitismo, ainda pra mais quando nem os vencedores são quem governa e os derrotados se unem para tomar a sua posição à revelia.
Aí está o cerne do que agora se diz eurocepticismo. Não é. É perceber que não vale a pena lutar por nada. É esperar que o que seja ocorra.
Um pouco mais de poucochinho até às eleições autárquicas, desta feita sem ‘póker face’.