culpa e responsabilidade
Berardo, De José a Joe a melindrice cativou aqueles que no seu engodo caiam ou dele se queriam servir.
A união entre os poderes político e religioso parece ser um fado do qual Portugal não se desfez em 1911. A ser que a sua separação efectiva se confunda em pleno Estado Novo, seria de esperar que em 45 anos de Democracia – dita madura – esse feito não unisse o que apartado está.
Mas a responsabilidade sempre é culpa num país onde os bodes expiatórios existem para evadir a busca pela verdade.
Não vou confundir casos com ocasiões – e deixo nota ao programa da Sic ‘E se fosse consigo’ que abordou o tema do HIV+, apresentando o caso de um jovem que, culposo, mitigou a responsabilidade da sua doença no olhar desta Sociedade voyeuristica ao invés de assumir a responsabilidade e as rédeas da sua vida (eu fi-lo) – mas a “imprudência” do patriarcado de Lisboa ao se intrometer na campanha política às Europeias, designando o seu voto em partidos extremistas apenas por apoiar a narrativa ‘anti-abortista’ foi triste ocasião.
Já o caso deste fado nacional resume-se na expiação do bode em que Joe Berardo se tornou.
Tentar descrever a audição de Berardo é como escrever com júbilo literário uma resenha a um romance de Margarida Rebelo Pinto: ficaria sempre aquém do mau que tudo aquilo foi, é e representa.
Mas o facto é, tudo ali representa o que Portugal foi e é. A questão central do ‘será’ prende-se com um se tão explícito quanto a verdadeira vontade entre buscar a culpa ou a responsabilidade subjacente a todo este processo.
Vejamos:
Berardo não passa de um testa-de-ferro, idiota útil, sucessivamente utilizado por distintos regimes e governos, singrando em nomeações e condecorações de decorar peito e dar cognome.
Sejamos sinceros, o milagre da importação de cicádeas por um décimo do preço nos anos ‘80 não se deveu à sua arte e engenho sabendo que as suas humildes origens madeirenses lograram apenas fazê-lo porteiro numa discoteca sul-africana em pleno Apartheid. Acredita-se que se tratou da sua proximidade de Pik Botha, de quem rápido se tornou até mais que um braço direito, que o ajudaram em matérias financeiras dentro do Ministério dos Negócios Estrangeiros ‘Africânder’.
De José a Joe a melindrice cativou aqueles que no seu engodo caiam ou dele se queriam servir.
A disputa interna no BCP é um tal flagrante delito que impressiona como hoje não se percebe desde logo a origem dos afamados empréstimos cedidos na CGD. O Estado durante a regência de Sócrates não podia mais reter uma posição privilegiada como accionista do BCP é um testa de ferro que lhe comprasse a posição era o saque ideal para o duplo negócio que se viu.
Não só Berardo colocaria a “sua” colecção (escolhida por Francisco Capelo que ‘Joe’ percebe tanto de arte como eu de física quântica) no CCB, como a troco receberia o início de um grande empréstimo a garantias nunca vistas pelo Portugal democrático.
Livre de culpas e sem responsabilidades.
E se a crise financeira nada mostrou com a Troika em prospeção profunda, coube agora ao governo da Geringonça nova assinatura de um contrato de si ruinoso.
Venha mais culpa, siga ausente a responsabilidade.
Mas Portugal é cíclico e a expiação é um modo de vida, gargalhadas de Berardo em escárnio de uma Nação horrorizada.
Porque se de política se trata, que se pergunte aos políticos e a quem lhes deu cobertura e não se dê o espectáculo de retirar comendas e ordens de se por ao peito.
Jaz a pergunta: Afinal que andava a maquinar Victor Constâncio, o Governador do Banco de Portugal, supervisor da CGD, durante a aprovação destes créditos ruinosos? É a ele que há de inquirir, de novo, com veemência para apurar as responsabilidades.