Nada como o bendito tempo para nos dar a perspetiva daquilo que, ou já se sabe, ou chega para nos surpreender onde réstia de dúvida podia haver.
Este ano deixei, propositadamente, passar em branco o 25 de Abril. Decidi não escrever alguma nota de roda-pé numa data que, a meu ver, deveria ser celebrada a 25 de Novembro na lembrança de 1975, mas antes deixar que no último ano da Geringonça os valores altos de uma Democracia adulta e amadurecida, onde todo o espectro político que dela faz parte faz usufruto da Casa do Povo, falassem mais alto.
E como falaram.
Por um lado o Eixo Central PS/PSD da via única que sempre uniu Portugal parece se rever na concordata da Lei de base da Saúde dando azo a ‘choque’, por outro o extremismo populista enaltece os partidos que em oposição resvalam em contagem de votos.
O Bloco grita, PCP sente-se perseguido e CDS joga em todas.
Se para mim o Bloco nunca me surpreendeu na sua retórica eleitoralista revisionista sobre os factos que o constroem, o seu refrão popular fora da época de Santos mostram bem o simbolismo de que se reverte a extrema esquerda portuguesa.
Pedir a Santo António que “Leva lá o Bolsonaro para ao pé do Salazar” não é um desejo de morte, antes que um Presidente democraticamente eleito seja derrubado numa Revolução como não aconteceu com Salazar. Ou é a mim que me escapa a referência, ou as manas Mortágua e a matrona Martins faltaram a umas aulas de história sobre regimes ditatoriais quando Chavéz implantou um na Venezuela?
E que dizer do PCP que ao se sentir perseguido pela “campanha de ódio e difamação” na épica solução governativa se descobre a perseguir quem dentro do partido dela discorde? Freud iria rever o seu comentário e dizer que nem sempre um charuto é um charuto…
Mas falando em rever princípios, a surpresa desta feita veio do CDS.
Se por um lado abraçam o liberalismo que se impõe e logram passadeiras arco-íris com o objetivo de assinalar o Dia Internacional de Luta contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, por outro assiste-se ao triste espetáculo de ver Nuno Melo dizer que “o Vox estará para o Partido Popular [espanhol] como a Aliança está para o PSD”, numa mancha curricular sem par.
Diz-se que o debate das Europeias se reverte disso tudo e mais…
Nestes momentos não deixo de pensar que, tal como cantou Cartola, o mundo é um moinho.
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó