A frase define o óbvio e basta:
À mulher de César não basta ser honesta, deve aparentar ser honesta.
Actualizando às circunstâncias actuais, ao Político não basta ser honesto, deve aparentar sê-lo. Simples não? Não!
Compreenda-se, política não é uma profissão, é antes um cargo que se ocupa e onde, pelas suas vicissitudes de escrutínio, o público e o privado – por vezes até o íntimo – deixam de ter delimitações de salvaguarda. Mais, quando a ideologia se faz retórica de mudança face ao que se pratica, a condenação será acessório essencial sobre incongruências existentes.
Mas faça-se ressalva: a incongruência é parte do ser. A sua génese é a narrativa que permite a mudança baseada na adaptação que a Sociedade tem.
Ninguém vive na bolha ideológica de 1917 tendo a tecnologia de 2018, muito menos quando a esperança média de vida – e a sua qualidade – aumentou de 54 para 79 anos, mas o poder da ideia é algo que persiste.
A análise sobre a honestidade da mulher de Cesar recai na tríada aparência/realidade/virtude, sendo que a percepção da verdade segue justo essa dinâmica; a aparência versa a realidade que determina a(s) virtude(s). O problema do político é a alteração da dinâmica; a(s) virtude(s) implica(m) uma aparência que não corresponde à realidade.
E como, segundo Aristóteles, as virtudes não só são uma característica atribuída por terceiros mas tendem a convergir, o seu contrassenso de autoatribuição revelam a ausente e deliberada honestidade que o político opta ter.
Então coloca-se a questão: quer o político ser virtuoso no voto que angaria para chegar ao poder, não obstante a mentira em que se baseia? ou ele de facto vive um paralelismo moral onde a ética não existe?
É que a contradição faz parte do jogo, até a falsidade, mas a mentira deliberada não.
No fim resume-se tudo a carácter – não carisma – onde a máxima “lidera pelo exemplo” define a postura. Quando a postura é mero ardil populista, o resultado é o que temos, políticos desonestos crentes na superioridade moral que a imprensa denuncia e eles taxam de fake news.
Afinal quem é o inimigo do povo?
(dou uma pista: hipocrisia)