A verdade é aquilo que escolhemos acreditar. Ou na falta de opção, a ausência de escolha que cremos ter.

“(…) eu sou um pobre provinciano que andou na política durante uns anos.”

A frase ficou famosa como repto daquele que se reelegeu Primeiro Ministro após a maior crise financeira contemporânea internacional já estar instalada e o jogo da mentira ser usado como engodo face a um povo de costumes mais brandos quando a verdade lhe toca.
Verdade seja dita, a frase apenas é dita quando o político é enredado nas manhas da corrupção de que é acusado, mas quem nele votou e lhe deu a maioria relativa em Julho de 2009 deve analisar esse momento como a chave o que hoje vivemos.

A crise das dívidas soberanas de 2012, revelado com a vinda da Troika a Portugal um ano antes, é na verdade desencadeada quando a bolha do Suprime Norte Americano rebenta face a uma Sociedade alavancada em impagáveis dívidas.
Portugal não era diferente, pelo contrário, e perante a adversidade, mesmo já sendo dito em 2006 – quando a crise ainda apenas se desenhava – que “a crise acabou”, a resposta do executivo Socialista de então foi tudo menos precavida.
José Sócrates vence as eleições baseado na asfixia democrática que se dizia alvo por parte do maior partido da oposição, e Manuela Ferreira Leite (também pela ausência total de preparo momentâneo ou carisma político) não logrou passar o seu ‘Compromisso de Verdade’.
2010 tornou-se no ano das mentiras injustificáveis e 2011 da dívida pública impagável.
A 6 de Abril às 20:38 o Primeiro Ministro oficializa televisivamente o pedido de resgate.

Ecoa o aviso que Teixeira dos Santos fez em Janeiro de 2009:
“Perante a crise sem precedentes o GPS não funciona, não há GPS que funcione nesta situação. Temos que nos guiar pelas estrelas. Há aqui é um problema: é que as nuvens são muitas.”
No final apenas sobrou ele.

Sem surpresa as legislativas de 2011 são ganhas pela oposição majoritária.
Passos Coelho entrou num resgate que, embora patrocinado pelo seu punho, claramente não foi a sua opção ideológica.
E a maioria que se uniu para governar face à que se unira para votar a queda do antecessor torna-se o novo alvo a abater num Memorando sem paternidade mas alvo de demagogia e eleitoralismo baratos. Os protestos que à crise Socialista de Sócrates pertencem são assim trespassados à memória Passista: aumento do IVA, corte nos PPR’s, congelamento de salários e pensões, redução do RSI e abono de família, greves na Função Pública, Professores e Saúde, divida pública impagável e a obsessão pelo deficit que nos levou à bancarrota, embora ocorridos entre 2009 e Abril de 2011, transformam-se nos anos da Troika.

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E três anos depois a saída não se torna tão limpa quando a teia da crise do passado se adensa no banco que serviu o Regime.
A ideologia da resolução sobrepõe-se à lógica da razão jurídica e a corrupção faz-se força motriz.
Sócrates é preso, Salgado eterno acusado sem resolução à vista de um banco que agora se faz cadáver dos interesses de muitos. Pinho, o da crise acabada sem começar, a vergonha de um governo de má memória presente agora num sem número de repetentes em cargos por mera filiação partidária. O Povo paga, os Partidos logram ver as suas multas prescrever, tudo em simultâneo com a narrativa repetida da memória Socrática: mais impostos, taxas e taxinhas, greves na Função Pública, Professores e Saúde, divida pública impagável e a obsessão pelo deficit num país cujo crescimento se baseia num GPS estragado guiando-se pela sorte do momento e esquecimento constante.

Portugal vive não o que quer mas o que pode ter – a verdadeira asfixia democrática – tão bem definida pelo próprio Dr. Costa, actual Primeiro Ministro não eleito mas feito se eleger, esta semana numa entrevista ao New York Times:
“Não passámos (…) para o lado luminoso da lua.”
Tem razão, um país sem brilho próprio apenas logra ser iluminado, ofuscado até, pelos demais. E Mário Centeno, o do Eurogrupo, é o primeiro a deixá-lo claro.

E chegados aqui, vislumbre de quem elegemos por reflexo de quem queremos ser, nisso nos tornámos: uns pobres provincianos que andamos aqui durante uns anos.
Esta é a nossa verdade. Ou a falta de opção que acreditamos ter.

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