Em 1811, a ‘Lady’ escreve o seu 1º Romance, ‘Sense and Sensability’, onde trata da busca, entre duas irmãs, do equilíbrio entre a razão (ou pura lógica) e a sensibilidade (ou pura emoção) na vida e no amor.
A ‘Lady’, como dois anos mais tarde foi revelado, era Jane Austen, uma voz feminina no meio de um Mundo Masculino de escritores que, por ‘Orgulho & Preconceito’ se faziam defender da sua condição fisiológica, dominavam um mundo de sentimentos, em que a razão era sobreposta ao Sentido que o rumo do Mundo tomava.
No enlace de uma moral que se definia em alguém que necessitou afirmar a sua voz como Senhora Nobre Inglesa, surge ‘Mansfield Park’ em 1814.
Caracteriza um momento definidor sobre esse mito de Pigmaleão pelo qual, quem sabe, nesse enraizamento de Liberdade invocada, nos encontramos.
Neste terceiro título, Austen faz do mito do pobre, rico, e de uma humilde Fanny Price, o preço a pagar para que uma filha dada à adopção singre na vida de casamentos por conveniência.
Era o Sentido de uma Sensibilidade & Senso expurgados do seu Orgulho & Preconceito em detrimento do valor material monetário.
A última obra em vida é Emma, o assumir dessa feminilidade ambiciosa da mulher independente, “bonita, inteligente, e rica.” Alguém que sabe poder manipular a vida alheia, pois não depende das amarras que a Sociedade e a sua construção sectorizada, fazem depender. É a Liberdade de Austen.
O canto do cisne de quem, a 18 de Julho de 1817 acabaria por morrer. As suas últimas palavras, sabendo do inevitável, foram: “Não quero nada mais que a morte”
Deixou dois manuscritos prontos para publicar, numa sintonia ímpar de, quem sabe, se reconciliar com uma vida de manifesto. Em 1818 são publicados ‘Northanger Abbey’ e ‘Persuasão’.
Enquanto o primeiro foi escrito em jovem, com cerca de 24 anos, o último é filho de uma morte anunciada e sentida. O entorno de ambos é o mesmo. Uma Mulher, num mesmo local, a cidade de Bath.
Se antes era uma visão infantil, sobre o que se escrevia numa época de literatura gótica, o segundo deixa-nos estarrecidos pelo descomprometimento da entrega com uma verdade escrita, a própria e sem subterfúgio de Austen.
Seguramente, se o Céu existe e a Crença em algo superior é prova, para uma Mulher que soube, com todos os atributos que a descrevem, e mesmo num acto póstumo de Persuasão, ser Conservadora e não imposição, estará hoje, discutindo a Divina Comédia com Dante.
Dante Alighieri também tinha esta vertente tripartida do Senso, Sensibilidade & Sentido. Ele apoderou-se da Comédia e fez-lhe razão teológica. Ascendeu de um Inferno, passando pelo Purgatório e terminou, próximo da sua morte, no Paraíso.
Interessante será pensar que esta estrutura, a tripartida, seria uma alegoria Terrestre, uma Esfera Armilar – símbolo Nacional Português, Brasão da Nação que deu novos Mundos ao Mundo.
Pena, se algo como tal existe, é a razão desta Persuasão.É faltar Senso, Sensibilidade & Sentido nesta ascensão do Inferno ao Paraíso, ficando-nos todos por um Purgatório. Preferimos ser ‘Ladys’, Senhoras respeitáveis de Alta Sociedade, ao invés de assumir a nossa verdadeira natureza, indo atrás daquilo que nos define, transforma e garante a imortalidade.
É que o & comercial não foi um erro, foi propositado. Afinal somos todos um bem de consumo imediato.