O acto ocorrido, propagado feito peste incerta, volátil, que apenas alimenta o interesse necrófago da mente Humana, torna-se a cada dia mais irrelevante.
Não é uma afirmação sem substância, é facto que comprovo, e de que modo, tanto pela minha ausência a escrever, como pelo roubo autoral – já por mim confiscado – do vídeo que o meu pai fez a 25 de Janeiro quando o edifício de fronte da minha casa se incendiou provocando um espetáculo visual de curto interesse, mas conversa cheia.

Seriam umas 20:45 quando o meu pai me enviou por whatsapp os 24 segundos onde se vê a intervenção dos bombeiros na Rua Garcia de Orta, a meio de um aparatoso incêndio que, felizmente não fez mais que estragos. Pelas 21:35 eu colocava o mesmo na minha página aberta de Facebook, partilhando o “assustador, mas no rescaldo”, sem imaginar que às 21:54 o mesmo estaria no Vimeo pela mão do Jornal Público, repetido em Telejornais de todos os canais de televisão, cabo e internet, sem autoria do mesmo, num escancarado roubo cibernético dos tempos modernos.

Atenção, não clamo por Direitos Autorais, tampouco os tenho, mas assim se compreende o propagar viral de algo tão insignificante como um vídeo de um incêndio apto a encher espaço e manchetes alheias ao consentimento de quem o gravou.
Mas o horror do vazio do irrelevante estaria para chegar.

Salsicha.png

Eram 6:00 da manhã, madrugada de dia 26 de Janeiro, quando o arsenal televisivo do Correio da Manhã se instalava frente a uma fachada que nem sinais de fogo ou passagem de bombeiros tinha.
Por ter sido um fogo no interior do pátio da cobertura, as marcas visíveis estavam escondidas, além de que a ausência de moradores e transeuntes – a Lapa é um bairro residencial – se revelaram o espelhar desse roubo orquestrado de um vídeo viral aproveitado para fazer repetidas manchetes comprovadamente irrelevantes.
Uma jornalista daqueles que enche chouriças verbais passou o dia todo em ‘Breaking News’ à portuguesa para dar notícias da ocorrência sem ocorrências.
Ninguém lhe falou ou mais lhe disse. Um dia mais de televisão no seu expoente máximo de desinteresse.

E lá está, são estes actos, propagados como uma peste incerta e volátil, buscando alimentar o imaginário pútrido e sequioso de morte, que tornam esta Sociedade viral irrelevante. A mesma apenas vive presa em se olhar sem ver, querer sem por nada lutar, julgando sem prestar contas.
Só culpa, responsabilidade nem vê-la.

Encham-se antes salsichas para assar.

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