Se há uma verdade consequente quando escrevo é relatar a Democracia Ocidental. Essa na qual esse núcleo de prosperidade monetária se ergue na História da exploração Humana e assenta sobre os sucessivos pedidos de perdão e culpa relegada ao esquecimento.
Sim, a Democracia é Europeia, a imposição da Democratização também.

Se na antiga Grécia se gerou o conceito, é nas raízes da partilha de África colonizada que se determinam as vontades para a grande transformação contemporânea.

Nada não acontece sem uma razão de ser, e não há a tipologia do racismo sem que a noção – errada – da divisão racial não tenha existido (e ainda existe) por milénios sem que a própria se tenha gerado no seu núcleo.
Não vou começar por dizer ‘No princípio era o Verbo’, mas o facto é que se queremos ter uma conversa séria sobre a noção do que é a democracia e as suas ramificações, há que ir à génese do conflicto racial, à escravatura, e de como nem sempre só o homem branco se fez o detentor da culpa face à tortura que esclarece o presente.

A Expansão Portuguesa para o Brasil tem sido considerado um dos maiores flagelos no que concerne ao mercantilismo de escravos vindos de África. Só que se o tráfico negreiro suja de sangue a memória Lusa, não menos ensanguentada está a de quem deles fazia negócio nos portos colonizados onde os próprios nativos Africanos, de Reinos e Estados organizados, que de tribos rivais escravizavam, vendiam os seus escravos ao melhor preço.

Entre 1519 e 1867 calcula-se que cerca de dez milhões de escravos atravessaram o Atlântico para as costas do Continente Americano, sendo que ‘só’ 38,5% às custas do Império Português e os restantes 61,5% com o selo dos Espanhóis, Franceses, Britânicos, Holandeses, Dinamarqueses e Norte Americanos que, todos, no total apenas controlavam 10% do Continente Africano.

Mas o mal da escravatura perante o colonialismo não terminou aquando do período alargado do Abolicionismo. Logo a corrida a África começou quando o ‘imperialismo informal’ ganhou força motriz para explorar as riquezas de um Continente ainda por explorar.
Independente dos seus habitantes, ritos, cultura e hábitos, a Conferência de Berlim de 1884 dá início à partilha geográfica pelos Impérios Europeus numa lógica e dinâmica de regra e esquadro onde a ocupação territorial alimenta a ganâncias de cada um.

Enquanto a maioria das fronteiras Europeias tem um traçado orgânico, reflexo de anos de luta e conquista, as fronteiras Africanas desenham-se como se de linhas ferroviais fossem, impondo a vontade que ‘mapas cor-de-rosa’ faziam perder face a Impérios que se desmoronavam num mundo rumo à guerra de 1914.

Repúblicas despontavam para se fazer Democracias primordiais onde Ditadores se ergueram. A nebulosa Europeia fez de África um activo disputável acessório onde a mão-de-obra era valentia de imposição.
A incerteza duraria até ao final da 2ª Grande Guerra.
O ouro havia de ser negro, por enquanto negro era um futuro de Apartheid’s e guerras civis.
Fugas e abandonos, declarações apressadas rumo a independências cadenciadas por regimes de ideologia plantada.

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Mas se a génese democrática é Ateniense e o seu “governo do povo, pelo povo e para o povo” jogavam a partir de princípios de igualdade e liberdade convivendo bem com a escravatura, a verdade é que – como bem o indicou Platão – ela era ‘uma espécie de anarquia da opinião, na qual a perspectiva dos ignorantes e mal instruídos se sobrepunha à opinião dos mais sábios’.
E se para o Ocidente segue sendo ‘a pior forma de governo, com exceção de todas as demais’, em terras de África parcos exemplos são aqueles que escapam ao fim do domínio da minoria branca.

A África do Sul representa o exemplo prefeito da imposição sem afastamento, da regra com cisão feita fusão e sintonia. Do colonizador presente à congregação dos “negros”, “de cor” e “indianos”, de Mandela carcerário, 46664, a Madiba pai da moderna nação sul-africana, a Democratização Ocidental em terra de tribos por linhas num mapa desenhadas.
Zimbabwe tudo pelo contrário, partindo de uma mesma premissa transformada em Regime despótico sanguinário em vestes ocidentalizadas de padrão étnico e colorido de corrupção excessiva, agora demitidas pelo mesmo partido que tudo sustentou e de tudo se fartou.

“Demissão de Mugabe é “oportunidade de ouro” para direitos humanos” diz a Human Rights Watch, como se o tribalismo fulcral que semanas antes o aplaudiu não fosse o mesmo que agora o derruba para substituir por outros cuja semelhança futura será de igual propriedade.
Porque em Angola igual se passa sob essa tutela da Democracia que de Ocidental nada tem mas suporte em legislação da troca pelos iguais de um mesmo partido chegam para tudo mudar em detrimento de pra eles tudo reivindicarem.

João Lourenço surgiu, 50 dias após a tomada de posse, como o Presidente exonerador dos do seu antecessor, nessa senda tão antagónica quanto o esquecimento que se faz luz dele não ser Presidente do partido que representa. Ou José Eduardo dos Santos é letra morta ou a mudança do poder é ficção “para Inglês ver” e Portugal ficar de fora.
Outros interesses se levantam mas os diamantes são ainda de sangue, sem garantias irrevogáveis e de futuro imprevisível num Estado em estado de sítio que esquece os inícios de um MPLA soviete pelos direitos de todos.

Angola uma Democracia de cariz tão provisional como o sangue que a sustenta, feita agora trespasse de inquérito para apreensão.

Não comecei por dizê-lo, mas termino.
No princípio era o verbo.
“Sobreviverás.” (custe o que custar)

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