Augusta nunca pensou que o seu fim seria este. Uma caixa de correio a transbordar, as vizinhas – uma sentida, outras com aquela preocupação como se fosse o eterno queixume que se tem quando vai à farmácia – comentando a sua ausência, a falta da sua presença, o ladrar miado do seu pequeno cão.
Dela fazia tempo que nada se sabia, logo agora que celebra 96 anos, mal sabendo a mesma que ali seguia sem que nem a sua família se houvesse preocupado.
É nestes momentos que até se pedem as tristes intervenções e nos coloquem em lares ou manicômios.
Mas o dia chegou em que, mesmo após a GNR ter dito que nada faria por abrir a porta do apartamento de Augusta, a mesma se abriu quando o fisco lho penhorou.
Ao Estado interessa mais o volume de cartas que ficam por pagar que a vida que ali vive. Vivia.
Augusta nunca pensou que o seu fim seria este. Fevereiro de 2011 começava com a venda em Leilão da casa onde ainda se encontrava e, para surpresa das autoridades que arrombaram a porta de sua casa, o encontro que definiria tudo aquilo que Augusta nunca pensaria viver.
Ali, de bruços no chão da cozinha do seu 4º andar Direito, com o que restava do seu fiel canídeo, as ossadas mumificadas do seu corpo. Augusta ficara abandonada e esquecida por todos no interior do seu apartamento por 9 anos.
Nem Família ou amigos, salvo excepção de Aida Martins, a sua vizinha que chamou a atenção das autoridades para o seu desaparecimento, ninguém dela quis saber.
Apenas o dito queixume de farmácia – “A Augusta, ah a Augusta!” – é a memória que perdura, antes mas sobretudo depois.
- @pedromourapinheiro.com
O relato é real e ocorreu na Rinchoa, Sintra, e o seu desfecho também. Na época levantou questões sobre o abandono na 3ª idade, o poder das autoridades em investigar e intervir, a responsabilidade civil dos familiares mais jovens e, claro, do Estado.
Agora já ninguém se lembra.
A Venezuela é igual.
A Venezuela é a nossa Augusta a viver no 4º andar Direito, todos preocupados, uns a defender que a ela se busque e ajude, outros nesse queixume de farmácia – e há mesmo aqueles familiares que de tão próximos devem querer a sua morte e herança -, que permitem um abandono face a uma autoridade militar que serve os interesses de um Estado Ditatorial.
Tal como outros países, infelizmente onde Portugal vê os seus cidadãos criar raízes, parece existir este padrão ideológico onde a plutocracia domina e abomina o ideal da Democracia livre.
Ela se tranveste de algo lícito sob o manto de popular para governar entre aqueles que ilude, fazendo deles suas ossadas mumificas, mortas nesse desespero a que assistimos no prime time televisivo.
Mas a morte anunciada da Venezuela; ou direi a Madurista, Chavista; é compreender o queixume que nos resigna a vivermos em modo Geringonça e em como seria melhor pedir para ingressar num lar ou mesmo manicômio.
Se o bafio Comunista se alinha com uma retórica expectável, digna de um lar, que dizer do pino ponte Bloquista, reivindicativos do Socialismo século XXI, e agora alinhados numa retórica quase Trumpista sobre o acto anti-Democrático de Maduro?
Quem os conhece que os compre, ou melhor, que os coloque num manicómio porque também são responsáveis pelo “4º Direito” Venezuelano actual.