Vou – com gládio de entretenimento – rebater a opinião vagabunda (melhor palavra não tenho para descrever) que Daniel Oliveira escreveu em defesa do ex-Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Numa opinião intitulada ‘A aberração que condenou Lula’ o jornalista esquece o Estado de Direito que o Brasil vive e limita o seu ataque ao Juiz Sérgio Moro, relatando a condenação do ex-Presidente como se de uma perseguição política se tratasse, sendo que, além de Lula apenas ter sido condenado em 1ª instância, encontrar-se em liberdade para recorrer sobre a mesma, tendo-lhe sido dadas todas as armas jurídicas – políticas também – para enfrentar um processo de corrupção.

Mas Daniel Oliveira, pessoa essa capaz de fazer o pino quando o interesse assim se lhe apresenta como esse facto oportunista de uma razão que se lhe escapa, vive preso dentro de um armário onde a ideologia lhe permite assumir ser quem é mas nunca o faz por desarmar a face frente ao partido que agora escolhe ser refém de uma realidade que a ele foge no horror da realidade que se aproxima.
Quando em 2013, após os rumores de que José Sócrates estaria a ser investigado pelo Ministério Público – nessa narrativa dos casos e casinhos da vida pessoal, da falência de um país animado por uma União Europeia que nos dizia (aos periféricos) para gastar sem mais não – Daniel escreve uma longa e larga opinião em defesa do Primeiro Ministro demissionário que havia deixado o país em pleno caos.

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Intitulado – em trocadilho por mim assumido – ‘O ódio a Sócrates’, ali se via o famoso pino (terminado em atlética ponte) que Daniel Oliveira se predispunha para defender alguém que alguns meses depois seria detido e mantido preso por quase um ano. Mas se no texto onde o ódio a Sócrates era na verdade essa versão de uma política de escárnio onde Daniel se colocava como Pôncio Pilates – “É normal que se investiguem primeiros-ministros e dificilmente me veem a comprar teses de cabalas e campanhas negras.” -, para, numa entrevista de Janeiro de 2017, quando questionado sobre José Sócrates o investigado formal responder “Não tinha nenhuma convicção sobre a sua honestidade pessoal; hoje tenho algumas (…) Há coisas que eu sei, porque o próprio confirmou, sobre uma dependência económica em relação a uma pessoa que não têm justificação possível. Não há nenhuma justificação legítima”.

E é aqui que Daniel se torna na aberração que tanto se esforça por encontrar em quem condenou o ex-Presidente Brasileiro.
Se o Bloquista parte de uma premissa de valor, garantindo que ele não fará a comparação entre teses de cabala e campanhas negras, logo neste caso entra na sua tese de argumento preferida – explicitada no seu ódio a Sócrates – a Republica dos Juízes.
Vejamos, e faço a minha ressalva de quem já o disse no passado, a República de Curitiba não se deve tornar na República Federativa do Brasil. E dito isto, nem a República dos Trabalhadores (aka Lula).
Mas se para Daniel – embora com um certo descontentamento – a Venezuela de Chavez se tornou na República de Maduro, nessa perfeita alusão do que seria uma República de Trabalhadores e Sindicatos, balões vermelhos e movimentos de protesto em detrimento sempre desse bem maior – o proletário -, tem vindo a falhar (a mais educada palavra que encontro agora) de uma forma tão letal que pensar-se que o Bloco de Esquerda faz parte daqueles que apoiam o Socialismo sec XXI como alternativa real dá medo.

Prossigo. O Trotskista Oliveira tenta colar a independência incontestada de Moro a uma página ad hoc onde o apoio à sua figura tem transcendido a postura republicana que se pede num país em plena separação de poderes. Felizmente, e como atesta a ONG Transparência Internacional, a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção é um forte sinal de que as leis e o Estado de Direito estão funcionando no Brasil e de que não há impunidade nem para os mais poderosos.
Mas isso não é suficiente. Vamos fazer da ignorância jurídica um jogo perdulário em defesa do líder de que gostamos para o mesmo ser, quem sabe um dia, um novo Sócrates da política latino-americana.

A visão unilateral para defender o populista face ao popular – que rapidamente cairá no esquecimento – fazem com que a criativa escrita de Oliveira se esqueça dos detalhes técnicos que suportam a acusação. Notas fiscais, contratos de fornecimentos de serviços e equipamentos, registros do imóvel, cópias de mensagens de e-mail, registros fotográficos, laudos periciais (pareceres técnicos), relatórios de comissões internas da Petrobrás e apurações do Tribunal de Contas da União (TCU), que demonstram em como o Petista recebeu o pagamento indevido de R$ 2,2 milhões de propinas da OAS, no apartamento tríplex do Guarujá (SP) como parte de uma corrupção de R$ 87 milhões paga pela mesma empreiteira pela participação do grupo em dois contratos em obras da Petrobrás, nas refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Getúlio Vargas, no Paraná.

Como boa parte da Esquerda, Daniel entra nessa senda persecutória da Imprensa que não serve o seu mestre. Cita uma (de duas) reportagem da Globo que se encontram no processo e que demonstram em como – em seu tempo – Lula não se importava de ver o seu nome associado à propriedade do Triplex. O ano era 2010 e o reporter do jornal entrou em contacto com a assessoria jurídica do então Presidente: Lula continua proprietário do imóvel.

Mas afinal tem um Triplex importância quando se trata do Presidente de uma Super Potência da dimensão do Brasil?
Tem alguma relevância ser ele a figura de proa que dominou e conduziu o Brasil no seu apogeu de maior sucesso financeiro e quando – sabe-se agora – a corrupção existente tornou-se uma instituição do Estado, filiado nos partidos com o alto patrocínio das Empreiteiras?
Importa alguma coisa olhar para Lula como Daniel olha para Sócrates, com essa displicência em dizer que é normal que se investiguem os políticos, mas que será difícil vê-lo a comprar teses de cabalas e campanhas negras como aqui faz? Ou que pode até ser que o mesmo Daniel faça de facto o pino para terminar o seu vexatório texto a rematar “E Lula pode bem ser corrupto. Mas esta sentença, com a base probatória que tem, é o que é: uma aberração.”
Dava-lhe jeito era que Lula não fosse culpado… porque aberração é quem não tem espinha dorsal e, politicamente, Daniel Oliveira não tem.

Nota:
Recomendo vivamente lerem a condenação na sua integra, o artigo da Estadão “As provas da condenação de Lula por corrupção e lavagem” uma vez que as provas ali se encontram reproduzidas; e claro, ler os textos e entrevista a Daniel Oliveira (no texto).
Criticar por criticar é sempre fácil, nunca o faço à pessoa mas à persona política que se apresenta em textos, crónicas e opiniões. Da mesma forma aqui estou eu para o contraditório.
O esclarecimento dos factos só se faz com factos, não com interjeições sobre a orientação de uma política ou direcionalidade da mesma.

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