Quando escrevi um texto, rumo a uma mediana crónica de costumes, nunca pensei em receber um elogio sem par da verborreia anónima de um utilizador de Facebook.
Havia terminado de escrever o texto covfefe sobre Trump, nem editado estava, publicava em cru por comentários de amigos para receber feedback, quando recebo uma crítica que me dizia:
“Treta de quem está doutrinado na islamofobia obamica que invadiu a Europa. Alinhados subservientes sem pensar pelas suas cabeças. Carneiros encurralados e desesperados pois o mundo de mentira onde vivem está a desmoronar-se e não têm onde se agarrar. Os moços dos gangs estão a ser deportados e ninguém fala nisso. O mundo mudou. A realidade está aí. Esse status de seres humanos mortos acabou. Ou vivem ou queixam -se.”
Se a delicia dos costumes não me perturbava num mundo que de mundo já nada tem, a minha resposta não se faria menos contundente com alguém que me leria sem nada de mim conhecer.
Retorquiria num tom de Democracia ponderada onde os tweets são publicações longas de outras redes sociais:
“Vá a afarpa.com e leia mais do que escrevo antes de criticar um único texto.
Já agora, nem 8 ou 80. Ou no seu caso, um 8 elevado ao infinito…”
Se a minha defesa se faz – ou prefaz – de uma multitude de opiniões assolapadas de contradição onde o fio condutor me induz à conclusão de que afinal tudo me garante ter um sentido unitário de que não me contradigo assim tanto, a resposta não poderia ser elevada ao infinito de um passado que nunca chegou a ocorrer.
“Já fui. E o quê. Quem é o gestor? O Ricardo Costa. ?”
Nesse instante, pese embora tenha respondido, ri-me de todas as formas possíveis ao imaginar o que poderia pensar o Director de Informação do grupo Impresa ao se colocar na minha posição, gestor de um one-man-blogue?
Só que é justo aqui que o título da crónica se confronta com a verdade da graça.
A 8 de Maio de 2015, antes de colocar afarpa.com online e tudo era partilha entre um grupo de amigos, escrevi um texto chamado Não sobre isso. Escrevia sobre uma pergunta que um grande amigo me havia colocado sobre a minha capacidade em escrever todos os dias.
Nele dizia, e transcrevo na integra:
Se eu teria, tenho, essa capacidade de o fazer de uma forma constante e ritmada.
A resposta que se esconde por trás de um título tão óbvio e pouco explicativo é simples: Sim
Gosto de escrever e faço-o porque preciso.
Não sou auto-contido.
Partilho.
Não sou silencioso.
Escrevo.
Não sou perfeito.
Erro.
Não sou humilde.
Corrijo.
Mas acima de tudo, não sou optimista.
Sou, antes, positivo.
Sei que quem me lê, e esse grupo é da minha confiança, sabe que, ao não ter redactores, correctores, acentuações e acordos ortográficos manipuladores, me permite ser como sou.
A impossibilidade da continuidade.
Se um dia parar é porque prescindi de viver.
Até lá, mesmo trocando um não por um sim, onde a Família deveria ter sido expugnável na sua negação, ao invés de insuperável pela positiva, eu continuarei a escrever.
Todos os dias e cada vez mais.
Obrigado aos que me avisam do erro.
Porque errar é Humano.
E eu, até me ter dado conta dessa contrariedade, era imortal.
O amigo era (e é) Henrique Monteiro e o desafio seria escrever no Expresso online.
A vida entrou em acção e o mundo coincidiu com a realidade pujante das coisas que poderiam ter sido e não são.
De presumível articulista tornei-me cronista ad hoc.
A escrita já não é diária, tornou-se mais ponderada, quem sabe elaborada e mais adulta, complementada por ilustrações gráficas cuja autoria (maioritariamente) é minha também.
O acervo foi disponibilizado para todos e vai crescendo. E eu sigo assim, dando resposta a quem me espicaça o intelecto.
É o Ricardo Costa o gestor?
“Não, apenas eu, crônicas de quem vê o mundo e o analisa com a distância crítica que a repetição estudada da História permite…
Felizmente há a divergência (como a actual), matéria fértil para escrita e contradição.
Já agora: Ricardo quem?”