Pensei, após o reboliço da semana que passou, em escrever este texto no 1º de Abril, mas soava-me tão fantasticamente mentiroso que, por ser esse dia, ainda passaria por uma qualquer ‘peta’ do dia das mentiras.
Juro, não é.

O mais famoso e notório quadro que o mundo pré-likes e cliques determinou como sendo a sua escolha de eleição – nessa fábula mediática do rasgão que já antes escrevi – é ele a hipotética génese de toda a selfie. Ali não há stick, apenas o olhar profuso e contagiante dessa Gioconda, um feminino andrógino que nos captiva num sorriso enigmático, trocista de algo que até hoje, 500 anos depois, nos atormenta sobre o nosso presente.
Os estudos acerca do porquê esse sorrisos aparentemente estático de Mona a fazem parecer menos ‘lisa’ abundam, mas o facto é que o quadro, em si mesmo nem um dos melhor de Leonardo da Vinci, é aquele que nos espelha.
Arte que imita a vida, vida que nos parece ficção.

Ronaldland.jpg

Claro que depois de tudo isto: Emanuel Santos, escultor do, agora infame, busto de Cristiano Ronaldo.
O que no guião de uma vida feita de reveses e sofrimentos seria uma bonita história complementar, como pé-de-página, ao que foi a ascensão do CR7, tornou-se na razão de escárnio pessoal para um amador que se considera artista na primeira pessoa.
Ao se desvelar o busto do jogador que agora assina o seu nome no aeroporto da ilha que vive da sua memorabilia, bananas e confetti, o horror do momento perpetuou-se como nesse memorial de há uns anos atrás: será que as estátuas de Ronaldo são confeccionadas à sua medida física ou meramente intelectual?
Facto comprovado pela declaração do jovem Emanuel, desempregado que em tempos trabalhou a limpar o aeroporto que agora ajuda a homenagear; Cristiano Ronaldo “gostou do que viu”. E o nosso problema começa justo aqui.

A Arte e a política misturam-se justo nesta questão do gosto. Nem a Arte se faz daquilo que a medida física de uma questionável intelectualidade individual considera ser, per se, Arte, como a política não é o acto isolado do gosto de quem nos diz Governar.

A inauguração da insígnia com a face, cujo nome do jogador faz copyright, agregada ao aeroporto da Madeira, trazendo representantes do mais alto gabarito, Primeiro-Ministro, Presidente, oficiais, dignatários, vip’s, etc e tal, com direito a discursos hipócritas e outros sobre a hipocrisia, sem que o nome tenha sequer sido sujeito às necessárias aprovações legais, demonstram bem o estado de graça onde a desgraça se faz piada para não dizer que já vem pronta.

O sorriso de Cristiano Ronaldo serve de metáfora para a actualidade Portuguesa.

A Caixa falida está, mas a Esquerda nada diz ou ao dizer – nessa congeminação de contágio – fala por se fingir oposição dela própria. O Novo Banco sem falência segue os velhos hábitos que o fizeram Novo, numa novidade que o tornam velho para quem já o antes pagou. E a Esquerda? Dividida para culpar a Direita que em razão fará deles mais unidos que nunca para a decisão apresentada ser a escolha que uma vez mais tirará dos cofres públicos aquilo que um Fundo de Resolução não tem como pagar.
Já no caso do Montepio se denota a explicita vontade que o Governador do Banco de Portugal tem em demonstrar ser ele o Pelicano Eucarístico de uma Associação onde, por ser Mutualista, não pode ter controlo, justificando os seus sucessivos falhanços como salvaguarda de um Sistema Financeiro onde Bruxelas entrou sem causa ou conhecimento.

Tal qual busto de Ronaldo, a actualidade Portuguesa está assim: “impossível agradar a gregos e troianos. Nem Jesus agradou a todos. Isso é questão de gosto, não é tão simples como parece”; “uma escultura é uma escultura e uma fotocópia é uma fotocópia”, e Portugal é o borrão da própria selfie…

Nota:
O jornal britânico The Independent, quem sabe para amenizar a saída oficial do Reino Unido da União Europeia, escreveu o artigo definitivo acerca do busto de Ronaldo, as 7 importantes questões em volta dele, que são tão representativas desta – parafraseando Alberto João Jardim – ‘Cuba’ em que Portugal se tornou.
É uma tristeza sobre a felicidade presente, onde parece que apenas Ronaldo parece estar feliz, mas todos em sua volta – menos esse povo descontente; e um fã disfarçado de batman(?) – são incapazes de lho dizer, buscando sugar tudo o que dele forem capazes até a brava Nação dos brandos costumes se chamar ‘Ronaldland’.

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