A expectativa era tão grande como na proporcionalidade do efeito de atracção pelo abismo. Tem-se medo mas há algo que nos atrai.

Foi dito que Trump, o agora 45º Presidente dos Estados Unidos da América, se foi inspirar no grandiloquente discurso de John Fitzgerald Kennedy para escrever o seu.
Não minto, hipócrita sei ser, mas como o benefício da dúvida faz parte do Ser, menos Humano que outra coisa, preparei-me num arresto mental para o que poderia daí advir.
Ressalto que o discurso de JFK, o primeiro a ser transmitido a cores perante uma audiência televisiva, é considerado um dos melhores até hoje, compreendendo o xadrez político da presente Guerra Fria, a importância da NATO, a resiliência dos EUA face a um mundo onde um muro se construiria em Berlim e o Comunismo não era apenas uma ameaça retórica.

A frase mais citada; “Não perguntem o que o vosso país pode fazer por vocês – perguntem o que vocês podem fazer pelo vosso país.”; acaba sempre incompleta, onde a relativização da importância ultrapassa tudo:
“Meus concidadãos do Mundo: não perguntem o que a América fará por vocês, mas o que juntos podemos fazer pela Liberdade do Homem.”

Era uma outra época. Kennedy, 2 anos e 306 dias depois da tomada de posse era assassinado. Tudo televisionado, agora apenas em comunicado e a preto e branco. O racismo ainda prevalecia e o ódio era rebatido. Martin Luther King Jr tinha um sonho e Kennedy não faria parte desse legado.
A América profunda confrontava-se contra si mesma, mas entre as linhas do discurso inaugural lá estava a previsão de um futuro.
“Tudo isto não será terminado nos primeiros cem dias. Nem será terminado nos primeiros mil dias, nem na vida desta Administração, nem mesmo talvez na nossa vida neste planeta. Mas vamos começar.”

E o princípio de uma mudança sucedeu. Foi consensual? não, nada. A guerra fria aqueceu, Cuba embargou-se, a Russia determinou-se como o inimigo útil e os 56 anos que separam uma tomada de posse para a outra trouxeram agora um idiota útil.

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O discurso de Trump foi de uma vacuidade mental tão grande que dito agora ou há 18 meses atrás quando a sua campanha lançava agressivas manifestações de ódio, racismo e preconceito para um eleitorado carente de populismo barato como panaceia sofrível, é exactamente o mesmo. E isso é estarrecedor.

O benefício da dúvida não se pode – ou deve – deter face ao que, em promoção, se anuncia como escrito inspirado em Kennedy.
A demagogia egocêntrica transposta para o cidadão comum, colocando o ódio em Washington, prometendo ilusões de grandeza ao mesmo tempo que declara uma guerra ao extremismo Islâmico em tom de aniquilação, bastam para colocar a questão – retórica, claro – se a escolha de JFK como inspiração não terá sido mais como risco de vida do que promessa de um Mundo melhor?
Dizem, parece, que o Presidente Trump gosta de andar em descapotáveis…

Nota:
O Presidente, dizem, inspirou-se também em Reagan, quem sabe numa analogia (só pode) ao facto do ex-Presidente ter sido actor. Do seu discurso nada sobrou, apenas esta anotação, pé de página, aqui acrescentada.

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