(continuação do texto anterior)

Os desvios sexuais não revertem a situação do afecto entre pais e filhos. Apesar de, pela lógica, a dita infantilização sexual com identificações opostas ao sexo próprio do individuo em análise poder ser interpretada como sendo uma atracção inconsciente pelo seu par do mesmo sexo, tal coisa não acontece. A erotização de um filho varão pelo próprio pai é já um desvio analítico à regra moralmente concebida. Qualquer homossexual, seja ele homem ou mulher vai dizer que no seu âmago a figura do mesmo sexo nunca foi levada a uma erotização infantil. Mesmo quando um filho adquire o pai do mesmo sexo como uma figura heróica de referência, isso não significa que exista essa apetência para ser ele a sua analogia sexual.

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Podemos buscar nos nossos pais um espelho para a nossa sexualidade dentro dos limites aplicáveis do que é decência moral. Podemos criar em nós, sendo homens, a figura de um pai conquistador que buscou e encontrou o amor da nossa mãe, assim como sendo mulheres, a forma galante como a persona da mãe se deixou conquistar pelo seu par.
Mesmo quando esta analogia foge dos padrões regulares, situação quase que comum em casais separados, ou mesmo em processos de divórcio, as personagens sexuais de identificação e partilha psíquica mantêm-se as mesmas.

Situações mais complicadas, derivadas da inexistência de um dos cônjuges, em que o processo de identificação sexual se torna um apanhado emocional mono-parental, estão na base de conflitos emocionais internos que deixam fragilidades [muitas vezes ocultadas por uma máscara de dureza física] que se tornam em desequilíbrios existenciais. O caso extremo é a posição do órfão que pela ausência de figuras paternas, muitas vezes encontra no seu igual [entenda-se outro órfão] uma figura de identificação emocional que não consegue, sem uma partilha promiscua, oferecer-lhe as bases de identificação sexual.

Se a dicotomia continental em mim é acentuada pelas razões de identificação maternal acima descritas, a posição paternal sofre da situação emocional derivada da criação mono-parental. Existe uma quebra na formação emocional do filho enquanto homem e identificação do pai ‘masculinizante’ que conquistou a mãe, que reverte a situação para uma busca num ser igual, quase, levado a um extremo, uma situação similar [na sua psique] ao órfão que não tem uma referência paternal.
Enquanto a fantasia emocional se deixa construir como se de um conto de fadas tratasse, a identificação sexual fica numa letargia constante, prendendo a existência sexual na promiscuidade do ‘continente mãe’.

A analogia ‘saias da mãe’ deriva desse conceito da promiscuidade continental em que o filho se mantém preso à sua mãe como referência da mulher impossível de se amar, mas sendo ele amado por ela. É uma erotização inconsciente com a consequência emocional de se ver a mulher como um ser que nos ama, mas a quem somos impossibilitados de amar. É a confusão psíquica entre o amor e o sexo, a forma de se amar e o desejo sexual.
É a identificação continental onde, pelo afastamento físico das figuras paternas e suas subsequentes relações e conhecimentos, permitem que com essa distância, a promiscuidade entre o amor|amar|sexo|sexual revertido para um núcleo familiar, alargue os seus horizontes e a culpa emocional da vontade sexual seja passada para um segundo plano, perdendo a sua importância por completo.

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