A certa certeza do impeachment de Dilma Vana Rousseff, assumido pela senadora Gleisi Hoffmann, é um preço alto que pede novos gritos de golpe e vaias para o Presidente Interino Michel Temer.

Não fosse a vaia pública de um chefe de Governo – nomeadamente numa conjectura política adversa – uma realidade mundana, a importância da vaia a Temer na abertura dos Jogos Olímpicos teria tido a mesmíssima importância que as sucessivas vaias a Dilma na Copa do Mundo de 2014 – ou dito isto, as vaias a Lula na abertura dos jogos Pan-Americanos de 2007 aquando do seu auge de popularidade.

Ou seja, na verdade, ser vaiado apenas tem a relevância política que se lhe queira dar.
Já presumir que um Vice Presidente toma o lugar interinamente de forma propositada e sub-reptícia é golpe é tão esticado como dizer que outro antes o fez e que o PT nada teve a opor mas antes tudo a ganhar.

O processo de impeachment, regulado pela lei 1.079/50 da Constituição Brasileira, apenas se colocou em uso três vezes.
Em 1953 com Getúlio Vargas, em 1993 com Fernando Collor, e actualmente com a Presidente afastada Dilma Rousseff.
Se Getúlio Vargas terminou por se suicidar, Collor renunciar antes que fosse dada continuidade ao processo, Dilma – até prova em contrário – será afastada do cargo pela prática dos crimes de que é acusada.
Se com a morte de Getúlio Vargas em 1954, Café Filho, o seu Vice, assume o cargo até 1955, no caso de Collor, o mesmo sucede com Itamar Franco.

Se Café Filho permitiu a chegada daquele que muitos consideram um dos mais emblemáticos Presidentes Brasileiros – Juscelino Kubitschek – Itamar Franco alavancou a chegada de Fernando Henrique Cardoso e da total implantação do Plano Real.
Ainda que sejam Vice-Presidentes tornados Presidentes com contornos de jogadas políticas questionáveis, foram aqueles que, num grau de impopularidade abriram a porta a novos políticos de sucesso para que o Brasil pudesse melhorar.

Evidente que aqui há uma dupla leitura, pois a seguir a Juscelino Kubitschek, aos Anos Dourados, com a eleição e renúncia de Jânio Quadros e a deposição de Jango e a instauração da Ditadura Militar em 1964, se pode dizer que uma benfeitoria trouxe algo de mau, já que é reconhecido hoje que o suicídio de Getúlio Vargas apenas adiou a imposição de golpe que os militares já planeavam uma década antes.
Usando da mesma lógica, ainda que aqui muito questionável – já que a História ao não se repetir imita-se -, pode-se assumir que a queda de Collor permitiu com que uma nova fase Dourada surgisse com Fernando Henrique Cardoso, fosse prolongada com Luiz Inácio da Silva, vendo o povo o seu verdadeiro representante se sentar na cadeira do poder, terminando naquilo que hoje se vê relatado na operação Lava Jato: o PT apoderou-se a seu bel prazer do aparelho de Estado.

É certo que não se trata apenas do PT. São um pouco todos os grandes partidos políticos com os quais o Governo lidou e precisou lidar nas últimas duas décadas.
A sua retórica golpista é tanta que até parece fazer esquecer aos defensores de Dilma que ao elegerem-na estavam a eleger Temer.
Os mesmos 54 milhões de votos de uma são os do outro. Nisso não existe Golpe. Existe escolha popular.
E lá está, podem haver vaias, manifestações, até o próprio Caetano Veloso a publicar-se segurando uma folha a dizer ‘Fora Temer’ em sinal do seu protesto, que a legalidade Constitucional do cargo está assegurada.

Caetano Veloso.jpg

Resta agora compreender o essencial. De que serviria afastar Temer agora?

Afastar Temer neste momento apenas servirá para trazer mais incerteza num Brasil que vive incerto.
Os países – ainda que possa alegrar a uns quantos – precisam de uma estabilidade governativa para por em prática orçamentos, políticas fiscais, toda uma máquina oleada e orquestrada que permite o regular funcionamento e operacionalidade da vida quotidiana.
Mais vale deixar que Temer se transforme em Presidente, siga sendo vaiado múltiplas vezes, seja impopular, aplique as pior medidas financeiras, económicas e sociais, mas consiga devolver o Brasil a um equilíbrio que antes teve.
O risco dele se poder candidatar em 2018 como Presidente é nulo como o próprio já referiu em nota.
Além do mais, Temer terá 78 anos em 2018, uma idade avançada para um candidato à Presidência.

Conjecturas à parte, compreende-se porque o PT não vociferou Golpe quando Itamar Franco tomou Constitucionalmente a Presidência a Collor. Não só o Partido dos Trabalhadores apoiou amplamente o impeachment de Fernando Collor de Mello, como Itamar Franco foi leal com o PT, desfiliando-se do seu partido – o PMDB – para apoiar a candidatura de Lula em 2003.

Como Temer não mostrou igual lealdade, grite-se Fora Temer!

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