As transformações Sociais não se fazem com revoluções, o derramamento de sangue, grito sofrido dos que se designam a minoria maioritária resignada ao seu silêncio.
As transformações Sociais fazem-se com a ideias. Com o principio latejante de que algo desconcertante se passa e precisa mudar.
As maiores revoluções da Humanidade não derramaram sangue, não tiveram gritos de sofrimento e pelo contrário, deram voz à verdadeira maioria silenciosa.
Falo da tecnologia.

Em finais de 1818 princípio de 1819 o debutante pintor e litógrafo francês Théodore Géricault, com somente 27 anos, apresentava o seu óleo ‘A jangada da Medusa’.
A pintura de grande dimensão retratava o momento logo após a fragata Medusa ter afundado ao largo da costa da Mauritânia a 2 de Julho de 1816. Dos 147 passageiros que construíram a jangada retratada por Géricault, apenas 15 sobreviveram nos 13 dias antes de seu resgate. Os que sobreviveram sofreram inanição e desidratação chegando a praticar canibalismo, o que fez deste naufrágio um escândalo internacional, sobretudo pela incompetência da tripulação e do seu Capitão Visconde Hugues Duroy de Chaumereys.

O julgamento público sobre ‘de Chaumereys não recaia sobre a sua pouca prática de navegação nos seus 20 anos ao serviço do Ministério do Mar, mas ao facto da sua posição ter sido política, por nomeação directa de Luís XVIII. É que a viagem da Meduse, assim como do brigue Argus e a corveta Écho que viajavam juntos, era aceitar a devolução britânica do Senegal nos termos da aceitação do Tratado de Paris. A pressa e imprudência na viagem fez com que a fragata afundasse, e junto com ela o Coronel Julien- Désiré Schmaltz, a sua esposa e filha, o governador Francês nomeado para a transição no Senegal.
Devido a isto o incidente tornou-se um enorme constrangimento público para a Monarquia Francesa recentemente restaurado ao poder após a derrota Napoleónica de 1815. A pintura quatro anos mais tarde reforçou, de forma indelével, esse facto.

O resto, sabe-se bastou a ideia para incutir nas pessoas o ideal revolucionário que mudou o rumo da História.

jangada.jpg

A Europa, num pesar de pesares, assiste ao retrato de um naufrágio.
Muitos retratam, tal como jovens debutantes, esse fim consecutivo de uma União feita de catástrofes iminentes, sempre aptas a decretar o seu fim.
Errado seria dizer que as consequências não têm causa, ou o seu efeito não produz um largo lastro de horror, tal como a pintura da jangada que em 1819 foi exposto no Salão de Paris.
Porventura a consequência política daquele retrato, tão fantástico, romântico, frio, calculista, emotivo, premeditado, sem causa mas com razão, façam este paralelo com o actual Brexit.

Ninguém nega que a União Europeia precisa se transformar face a uma nova geração que se insurge num mundo onde adaptação é instantânea.
A Democracia já não só existe no boletim de voto. Ela é directa, participativa, viral.

(revolução tecnológica)

Se o populismo pensa que ganhou o voto na saída do Reino Unido da União Europeia, que se desengane.
Ganhou o medo momentâneo pela adaptação a uma realidade que muda e não vai parar de mudar.

Os partidos tradicionais também não podem consentir numa resposta conservadora ou expectável. Bruxelas – aludindo à UE – não mais é que um reflexo do que se passa internamente em todos os países Europeus. A complexa burocratização Constitucional conjugada com inúmeras leis construídas para uma defesa em carácter excepcional, criaram o afastamento entre os cidadãos e a política. Fora o condicionalismo (muitas vezes em obrigatoriedade participativa) do sufrágio eleitoral, a maioria dos residentes num país não se preocupa com a política interna exercida sobre os mesmos. Adicionando o factor Europeu, o desconhecimento de causa agiganta-se.

Mas agora, será que esta transformação Social tem de ser uma revolução?
Será que é preciso afundar todo um Reino para que sele saia uma jangada de sobreviventes aptos a contar os horrores desse trauma?
Ou podemos todos, a 28, conversar seriamente sobre aquilo que diz respeito à União Europeia?

(sim/não)?

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