Será que existe uma ética na estética, ou elas existem como separado?
Enquanto a ética é aquilo que se sabe intrinsecamente como principio moral, a estética é aquilo que vem de fora, é observável e que nos diz algo.
Apesar de não se poder dizer que existe uma ética estética, pode-se dizer que na estética existe uma ética no pensamento selectivo.
Antes de mais façamos uma definição de estética;
Estética: (do grego αισθητική ou aisthésis: percepção, sensação) é um ramo da filosofia que tem por objeto o estudo da natureza do belo e dos fundamentos da arte. Ela estuda o julgamento e a percepção do que é considerado belo, a produção das emoções pelos fenómenos estéticos, bem como: as diferentes formas de arte e da técnica artística; a ideia de obra de arte e de criação; a relação entre matérias e formas nas artes. Por outro lado, a estética também pode ocupar-se do sublime, ou da privação da beleza, ou seja, o que pode ser considerado feio, ou até mesmo ridículo.
(in wikipedia)
Sendo ela, por definição, algo filosófico, não é de estranhar a subjectividade na nossa eleição daquilo que é estético.
Ainda assim poder-se-à dizer que existe uma estética universal baseada na nossa observação da natureza.
O acto de se olhar para nós enquanto pertença do mundo natural é o caminho mais directo para dita compreensão.
Apesar de nos diferenciarmos dos outros animais, também o Homem é um produto da natureza, e com ela vive em comunhão, apesar de a dominar e transformar a seu proveito. Dito isto, olhar para as medidas e proporções que o Homem tem perante a natureza, influenciam a sua observação estética do mundo que o rodeia. Assim sendo, desde logo existe uma ética inerente nessa escolha do reconhecimento de um cânone natural.
Mas e a ética, que significa e como pode ser que exista uma ética para a estética, e não o contrário?
Por definição a ética é a parte da filosofia dedicada aos estudos dos valores morais e princípios ideais do comportamento humano.
A palavra “ética” é derivada do grego ἠθικός, e significa aquilo que pertence ao ἦθος, ao caráter.
(in wikipedia)
Se para se definir um comportamento Humano é necessário carácter, também para se definir uma estética são precisas normas comportamentais. Ambas existem no ramo da filosofia por serem tão abstractas como a questão subjacente do ‘gosto’. E isto traz-nos ao ponto fulcral, afinal como se pode medir o ‘gosto’, defini-lo como bom ou mau, e saber quem é o detentor da sua verdade?
A maiêutica comportamental
Voltemos aos dez mandamentos e à sua ordem pré-estabelecida
1º – Amar a Deus sobre todas as coisas.
2º – Não usar o Santo Nome de Deus em vão.
3º – Lembra-te do dia de Domingo para o santificar.
4º – Honrar pai e mãe (e os outros legítimos superiores).
5º – Não matarás.
6º – Guardar castidade nas palavras e nas obras.
7º – Não roubar. (nem injustamente reter ou danificar os bens do próximo).
8º – Não levantar falsos testemunhos.
9º – Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos.
10º- Não cobiçar as coisas do próximo.
A ordem pela qual se apresentam os dez mandamentos não é puramente aleatória, é trabalho de milénios, enquadrando de forma sistemática os princípios que se regem uns aos outros, numa ordem tal que o sentido não seja questionado. Em primeiro a crença num ser superior construído à nossa imagem, mas que do qual não se usa seu nome em vão. Em seguida o sentido de ritmo que regule o quotidiano e defina a presença humana nessa repetição consistente com o dia a dia.
A família vem como o seguinte e mais importante mandamento. Saber que somos parte integrante de algo maior, um traço genético que abrace a linha de sangue que define a temática ‘família’. A subsistência da vida vem em seguida, relatando a proibição de se matar um ser igual. Entre os outros mandamentos constam aqueles que fazem sentido como princípios morais inquestionáveis.
Nem se cobiça coisa alheia nem, rouba ou levanta falso testamento.
Porventura os mais interessantes mandamentos, sob a perspectiva do sentido da estética, e dessas ambiguidade relacionada com a ética, são o sexto e nono mandamentos. Ambos falam em guardar castidade, primeiro nas palavras e obras, e depois nos pensamentos e desejos. Ou seja, antes de existir um eu interior, com os ditos pensamentos e desejos, existe o eu exterior formado pela palavra e obra.
Desde logo existe uma estética pré-estabelecida daquilo que se julga ser belo na palavra e acto, e por conseguinte nos pensamentos e desejos.
Isto leva-nos a pensar que a estética tem uma ética, mas o contrário não. Como se pode numa abstracção como ética, vislumbrar algo como estético. É uma razão sem condição de retorno. Simplesmente o é.
Se a esta equação retirarmos o feito mágico de uma divindade como ser superior, podemos entrar numa linha de pensamento filosófico Socrático. Assim, passamos a ver a vida sob uma luz maiêutica, onde se questionam os princípios comportamentais Humanos, concluindo que existe uma sabedoria geral de entendimento comum. Quer com isto dizer que sabemos de forma intrínseca distinguir aquilo a que se pode chamar estético contra aquilo que sentimos ser anti-estético, alinhavado numa ética inerente ao ser.
(continua)