A máquina de propaganda Russa, pela voz do seu Ministro dos Negócios Estrangeiros Vyacheslav Mikhailovich Molotov, anunciava em Agosto de 1939 a ajuda Humanitária contida no pacto de não agressão Nazi-Soviético que entregaria auxílio alimentar aéreo aos campos de batalha sobre a Finlândia.
Os militares Finlandeses falavam sarcasticamente nas “cestas de pão molotov”, uma vez que o famoso auxílio prestado pelo pacto de não agressão traduzia-se em constantes bombardeamentos sobre as tropas.
Quando a estas cestas de auxílio Humanitário se juntaram as bombas incendiárias, os finlandeses rápido cunharam o termo “cocktail molotov” como a bebida a ir com a refeição que lhes caía dos céus.
Molotov, apesar da sua vaidade propagandista pessoal, desprezava a associação do seu nome ao cocktail. Dele, até hoje, resta apenas na memória colectiva esse artifício, um bumerangue lançado com um princípio que regressou com outro, de maior e pior impacto.
Narrativas de cocktails molotov à parte, o princípio da história serve de base a todo o princípio político, lançado com um intuito estilo bumerangue, nesse retorno de grande eloquência, e que regressa com um impacto a longo prazo onde as consequências nem sempre são as espectáveis.
Uns dirão que isso é a vida, outros que isso é a política, uma espécie de “a arte do possível“.
No cenário político contemporâneo parece que existe uma maior percepção da corrupção que mina as Instituições Públicas e os políticos que a elas se ligam e instituem-se como seus dependentes carreiristas. Tal facto deve-se a duas simples condições. A primeira é o controlo voyerista que se instituiu através das redes sociais, da internet e da partilha quasi-imediata do mundo digital em que vivemos. A segunda advém da desresponsabilização que os ditos carreiristas têm constituído na independização das Instituições que governam, relegando a responsabilidade das mesmas para sub-comissões ditas independentes e inamovíveis.
Se por um lado a Sociedade vê com bons olhos uma política que se torna, aos olhos virais, mais independente e transparente, sendo que tudo se constitui e estabelece em comissões ad hoc, a verdade é que os políticos eleitos apenas o são para se tornarem em verdadeiros cocktails molotov versão bumerangue.
Um político contemporâneo existe para se eleger e conseguir um cargo a tempo indeterminado até lograr a su posição ad hoc inamovível.
A renovação do cenário político faz-se sucessivamente pelos mesmos.
Mudam de posto, mas as caras são as mesmas de um sintomático passado de repetição intuitivo.
Em Portugal não ocorre há pelo menos 15 ou 20 anos.
Quem sabe o problema que tanto se busca identificar na Democracia actual seja esse.
Um bumerangue de retorno imediato, cocktail molotov de políticos carreiristas onde a renovação é sempre o impacto explosivo.
Mas como se diz, a responsabilidade não está no político, mas em quem nele vota.