Georges Benjamin Clemenceau, o futuro Le Tigre, quando ainda se ocupava do seu jornal de esquerda radical L’Aurore, publicaria o mais influente artigo de opinião política que França leria no ano de 1898.
Era 13 de Janeiro e Émile Zola escrevia J’accuse.
“Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice. Mes nuits seraient hantées par le spectre de l’innocent qui expie là-bas, dans la plus affreuse des tortures, un crime qu’il n’a pas commis.”
A carta aberta, endereçada ao Presidente Francês Félix François Faure, acusava-o e aos seu Generais, Oficiais, Juristas e todos os que se viram envolvidos na condenação do oficial de artilharia judeu Alfred Dreyfus por alta traição à Pátria, pela processo fraudado que se tentou encobrir com razões de lógica xenófoba e Nacionalista.
Quando Madame Bastian, empregada de limpeza na Embaixada Alemão em Paris, encontra o documento que se designou por La Bordereau no cesto do lixo do adido militar alemão, o tenente-coronel Schwarzkoppen, logo o entregou para os Serviços Secretos de então. Os mesmos chegaram à conclusão, por uma única assinatura, de que dentro das fileiras de oficiais Franceses um espião Alemão se escondia, e logo esse espião seria Dreyfus, um judeu.
Na verdade a assinatura era do oficial Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy quem havia propositadamente criado a lista enquanto agente duplo, com o intuito contra-ofensivo.
A estratégia ofensiva, ainda que obliqua, acaba por servir o seu propósito.
Zola expôs e expôs-se frente ao preconceito que um erro jurídico gerava numa França institucionalizada pelo poder corrupto e militar.
Clemenceau acaba por se tornar Primeiro Ministro de França durante a 1ª Grande Guerra.
Esterhazy e Dreyfus absolvidos dos crimes de traição à Pátria.
Por fim o caso relata o fim da Monarquia instituída na Europa em detrimento da República como instituição legal.
Só que estratégias ofensivas nem sempre têm a repercussão que se pretende e este caso alça o antissemitismo como forma de agressão sociológica, tão presente no seio Europeu nas décadas vindouras. Quem sabe seria esse o desígnio original da Bordereau?
Mas à História ao que à História pertence.
Falemos do princípio da estratégia da ofensiva, desse despoletar de algo que, ao gerar um movimento, uma ideia, semeando um pensamento, lograr algo muito maior do que inicialmente previsto.
Tradicionalmente habituamos-nos a pensar no curto alcance do imediatismo. Tudo o resto é uma espécie de teoria conspirativa. Mas e se não fosse?
E se na actualidade Portuguesa a intersecção de vários circuitos de uma resolução fossem um garante maior do que antes previsto?
Ricardo Salgado, o ex-DDT, lança o livro Dias do Fim. Nele é revelado a animosidade relativa a Álvaro Sobrinho e a maquinação por ele feita no controlo do crédito concedido no BES Angola, nomeadamente aos avultados empréstimos à cúpula do poder Governativo sem que os mesmos tivessem garantias colaterais.
Na mesma semana em que o excerto sai na imprensa a auditora KPMG é alvo de buscas relativa à KPMG Angola sobre o processo Universo BES.
Coincidente com a investigação paralela, o Procurador Orlando Figueira fica detido por corrupção ao ter arquivado processos que envolvem a mesma cúpula de poder Angolano relativa ao branqueamento de capitais com dinheiro que a justiça supõe ter vindo dos cofres do BESA.
Ao mesmo tempo a Justiça Portuguesa exclui as menções a Manuel Vicente, Vice Primeiro Ministro de Angola, da Investigação, o mesmo diz-se pronto a colaborar com a Justiça Nacional.
Em simultâneo com a aparente coincidência, a filha de José Eduardo dos Santos perdeu o poder de voto na compra do BPI para o CaixaBank que lhe propõe uma OPA, resolvendo a exposição do Banco em África, ao mesmo tempo que a origem do seu dinheiro no negócio na Efacec geram controvérsia.
Se por um lado é conveniente a Portugal que o BPI saia de Angola, o problema BESA seja sanado assim como o poder da Família Presidencial se veja reduzido no capital Português, por outro não nos interessa sair por completo de Angola.
Ao mesmo tempo que Ricardo Salgado é o vilão de uma história cuja narrativa é mais complexa do que aparenta, Álvaro Sobrinho é o peão que a cúpula Angolana usou para se financiar e comprar capital Português.
A fragilidade centra-se na origem do dinheiro que se usa para comprar bancos e fazer deles património a título individual.
Portugal divide-se entre ter uma banca Espanhola ou entregar-se ao poder que Angola discretamente instalou no País.
O facto é que é preferível fechar-se o olhos ao nome do Vice Presidente em qualquer esquema de corrupção, lançando a estratégia dele dar o seu golpe interno na oligarquia Familiar que o colocou na cúpula Angolana, do que nos vermos na dependência Ibérica, sem que a nossa vontade seja soberana.
Isto é estratégia ofensiva de longa duração. Resta saber quais os seus efeitos colaterais?