O medo é um dos sentimentos mais primitivos e enraizados na mente Humana.
A sua existência permite a nossa salvaguarda como por outro lado a atrasa ao se transformar em ânsia.
Se o possessivo se faz fobia, o medo é justo isso, algo que em consciência sabemos dominar mas que nesse repúdio mental se enraíza nos nervos e nos descontrola a mente para fazer da própria sombra razão de perseguição.

Só que nem sempre o medo é a sombra que uma luz projecta. Nem mesmo o receio que um som inflige ou afecta.
Pode que o medo seja o resultado induzido pelo que a própria Natureza provoca no Homem e na sua condição de ser sua condicionante.

Sabemos que o espaço sideral, perante a nossa incapacidade (actual) de o vislumbrar mais que dentro de um limite físico, é infinito, mas o espaço físico que habitamos aqui no planeta Terra é bastante limitado dadas as condicionantes que a própria Natureza nos impõe. Assim, direi, é sintomático que a própria Natureza crie o phobos que nos aflige.
De tempos em tempos surgem surtos pandémicos que atravessam o planeta por forma a controlar a densidade populacional que por aqui se propaga.

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Na verdade todas as pandemias começam por algo menor. Antes são epidemias, doenças infecciosas numa pequena região, uma vulgar picada de mosquito, uma estação do ano em choveu mais do que o habitual, um campo de centeio mais escuro.
Um dia em 1692.

Fevereiro. A filha do novo pastor Samuel Parris ficou doente sem nenhuma explicação aparente. Gritava e atirava-se pelos cantos. Sentia picadas e beliscões na pele sem que para isso tivesse sido picada por algum mosquito ou alguém a estivesse a beliscar.
Como o médico local não encontrou nenhuma explicação plausível para o que a jovem de 10 anos padecia, logo a razão Puritana a ser invocada foi possessão demoníaca.
Elizabeth Parris estava a ser influenciada pelo Demónio. Não só ela, mas as suas amigas também.

Depressa a vila de Salém, na Colônia Americana de Massachusetts, veria começar os julgamentos de bruxaria.
Seria phobos, fobia, medo? Ou então uma simples razão tão natural como possível epidemia que como veio, logo passou?

Ao que parece o ano havia sido chuvoso e o centeio guardado em zona húmida desenvolveu o fungo claviceps purpurea – esporão-do-centeio. Dito assim nem parece algo muito nocivo. Basta acrescentar que este fungo , além de alucinogéno, é uma das bases utilizadas para fabricar LSD.

Exacto, face ao que hoje em dia se sabe – e empiricamente se sabia desde 1095 como “Fogo de Santo António” – aquilo que ocorreu em Salém não foi mais que um delírio colectivo de um grupo de adolescentes sob o efeito de um estupefaciente.

Na verdade a teoria em debate até hoje está em aberto.
A pandemia não existiu mais que o facto durar como referência de um medo que nos controla sem razão de ser, e o grupo que acusou as Bruxas de o serem podia apenas ser influenciado pelo medo que a vida em si nos traz.
As dores de crescimento não são apenas as dos Seres Humanos no seu egoísmo individual , ou mesmo colectivo.
As dores do perpetuo crescimento são-nas também deste meio ambiente que a meio de algo estará, apenas não sabemos bem do quê.

Face a essa garantia da impossibilidade provável de sabermos o fim do infinito desse espaço que nos rodeia, mais vale aprender a controlar esse phobos que nos aflige , inflige e sintomaticamente nos faz parar quando a sombra se projecta pela frente.
O destino não está traçado, mas o fim de todos é uma pandemia endémica.
E essa eu asseguro.

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