Uma maçã
Se a sabedoria da Humanidade se guarda nessa dentada que um dia Adão deu nessa maçã, é também ela que traz um pecado de expulsão e praga que fizeram terminar esse Éden perpetuo para o primeiro casal da mitologia Humana.
Mas se a maçã não fosse uma maçã? Se ela fosse uma adaptação de tradução, um genérico pomo como uma pêra, um figo?
Que seria da Branca de Neve e o veneno na maça que morde?
De Newton e a maçã da gravidade?
Da Apple e o seu logótipo que Turing homenageiam?
Se não fosse por Eva e a sua entrega a essa serpente, que seria da Humanidade e do seu pecado original?
Criação da Evolução
Eva sentia-se perdida frente ao seu espelho. Essa angústia da sua existência não se ponderava frente a quem dela não fazia mais que uma utilização prática, descartável.
Eva via-se como qualquer uma das outras que a ela se seguissem. Igual ao que não podia ser.
Vítima de abuso? Violência doméstica?
Ou simplesmente prisioneira daquilo que lhe haviam dito ser um autêntico Paraíso?
O fito desse olhar, tragado em quem se sabe parte desse outro, morfológico e orgânico, numa promessa de voto que se quebra, reflectia-se numa maçã prestes a ser trincada. Eva oferece-a a Adão, sua contra-parte, seu reflexo.
A sua certeza contrasta com a dele, mas o intento da traição mantêm-se e Adão engasga-se na sua maçã.
Eva desperta do seu torpor existencial. Já mais não é Homem, apenas Mulher. Assume-se, frente ao espelho, como aquilo que sempre sentiu ser, imaculada dessa origem que lhe imputavam.
A sabedoria que antes disseram ser pecado fez-se reflexo daquilo que agora mais não é. É evolução, não criação.
Os Jardim de Eva
A genética do Génesis falha no seu ADN.
Se a criação do Homem passa por Adão surgir do barro, sucedendo-lhe uma Eva da sua costela, e os seus três filhos, Abel, Caim e Sete, de onde saíram os pares sexuais para garantir a linha sucessória de reprodução que permitiu a sustentação da Humanidade?
Não só o pecado original que a Bíblia esconde e imputa a Eva se determinam na referência mitológica Grega do pomo de ouro – significando a longevidade eterna – como a sabedoria proibida é justo aquilo que permitiu começar tudo: o incesto.
O Jardim do Éden após Eva descobrir a lógica da reprodução desaparece para transforma-se num mundo feito Jardim das Delícias profanas.
Se Adão cumpre a inseminação, Eva carrega, literalmente, os embriões em gestação. Mais, é ela a responsável pela perpetuação do futuro incesto de sustentação de toda a narrativa Bíblica.
Eva transforma-se na mácula de todas as Mulheres. Ela é Rebeca, Raquel, Maria Madalena, Salomé.
O pecado da sabedoria não é saber a sua razão, é fazer dela pecado e com isso julgá-la como culpa.
Maquillaje
Eva:
No me mires, no me mires, no me, no me, no me mires, déjalo ya!
Que hoy no me he puesto el maquillaje y mi aspecto externo es demasiado vulgar para que te pueda gustar.
Adán:
Sombra aquí, sombra allá. Maquíllate, maquíllate!
Un espejo de cristal, y mírate y mírate!
Eva:
Mira ahora, mira ahora, mira mira mira ahora, mira ahora, puedes mirar que ya me he puesto el maquillaje, y si ves mi imagen te vas a alucinar y me vas a querer besar!
Política
Eva é tanto a de Péron como a Braun de Hitler.
Pode ser populisma como Nacionalista. Pode ser Bíblica e sigla de Espuma Vinílica Acetinada.
Existe como uma referência de um pecado que, na fuga para uma evolução de Newton, nos traz para a lógica conturbada da razão, entre o extremo de uma Esquerda ou o excesso de uma Direita, o equilíbrio Humano está algures a meio.