No embalo dicotómico de um lápis que funciona ao movimento pendular dicromático entre o que é azul ou vermelho, fica essa nobre ou apaniguada profissão de Jornalista.
Se um lado pode ser celeste, o outro queima. e como tal, perante a imponderável posição de um jornalista que assegurou, sem tendências políticas, que em Portugal não existem Jornalistas de Esquerda, mas antes, como se pode ler pela franca posição de alinhamento a favor da Coligação, a classe jornalística lusa é da Direita.
Faz-se um parêntesis de aviso, em tempos de idolatria, a Esquerda aqui é Socialista, pois já fui advertido de que a verdadeira Esquerda, a Comunista, nada tinha que ver com aquela que existe no jornalismo Português. A sua imposição de ideias que caíram com um muro, ou na verdade apodreceram no fim de uma Perestroika, nada assimilam nesta União de contratos celebrados à espera de um aval Presidencial.
São neutros.
Neutralidade é facto que não se assume ou assimila.
E por tal, como já o disse a um jornalista que, pelo que diz, escreve e pensa, quem sabe não tenha nascido para apenas ser jornalista, fica aqui a minha resposta a quem faz passar essa ideia de que neste rectângulo, profuso de alienação, somos todos Libertários na Liberdade que temos.
A classe jornalística Portuguesa é tendencialmente de Esquerda por uma simples razão, nada distante de uma realidade muito concreta, imutável, e que agora se vê num impasse ardiloso e interessante: são os filhos da censura.
Durante quatro décadas de Ditadura com Salazar houve censura real em Portugal, onde tudo o que era em contra o Regime era censurado, e quem desobedecia era preso pela PVDE.
Havia sanções, havia multas, havia o famoso lápis azul.
Nesse sentido, dentro de quem se dizia cumpridor do regulamento, sempre houve um desafio encapotado: ser do contra.
Uma lícita insurgência disfarçada.
Os jornalistas eram os radicais audazes escondidos para poder passar mensagem.
E quando o Regime é derrubado pelos militares a 25 de Abril de 1974, foi ver como a Liberdade de Imprensa foi das primeiras Liberdades asseguradas.
Todos podiam dizer tudo e o lápis foi para sempre banido.
Como o Processo Revolucionário em Curso de instaurou, a Esquerda dos Meios de Comunicação difundiu a palavra, e o azul da censura virou o bico e ficou mais vermelha, deixando o encarnado de bem de lado.
E por lá foi ficando apesar da derrota nas urnas da primeira Constitucional de 1975.
Mesmo sendo o Socialismo Português uma Esquerda, sempre foi moderada, e o seu aliado natural reside ao centro. Ainda assim, a imprensa, livre, sempre seguiu sendo de Esquerda, uma esquerda mais à esquerda que o Socialismo que se escolhia nas urnas.
Por graça, mesmo não tendo nada que ver, os jornalistas tratam-se por ‘camaradas’, numa lembrança mais dos tempos de guerra, ao estilo de camarata, do que ao estilo da Comuna Estalinista, mas a piada subversiva imperou, e os camaradas jornalistas, por serem na sua maioria de Esquerda, são uns camaradas de Esquerda encapotados servindo a palavra dos seus partidos.
Mas o contrário também se passa, só que geralmente quando são jornalistas de Direita assumem esse ónus de cargo e encargo. assim, quando surgem jornais ditos de Direita, a sua palavra é sempre contra reivindicada.
A título de exemplo o falecido Independente, ou na actualidade o digital Observador.
Só que neste momento de estranha transigência e transição, a ode à esquerda habitual mudou.
Os jornalistas de Esquerda percebem que a extrema Esquerda, divertida na oposição – pronta a malhar a situação governativa; não será a melhor ou mais correcta opção governativa no curto, ou, mesmo, longo prazo.
As vozes dos seus chefes estão assustadas e escrevem editoriais a mostrar isso. Artigos de opinião onde justificam essas falhas de cultura política de Esquerda Unida.
Os Editores, muitos ainda da velha guarda, na casa dos sessenta, onde a memória dessa censura se transformou em realidade capitalista, vive aprisionada no ideal que Frank Zappa resumiu com a ideia do Silly Hat: “Communism doesn’t work because people like to own stuff’
E lá está, os jornalistas regem a sua vida por quem lhes paga o salário, e sabem, independente de pertencerem a que partido pertençam, ou terem como ideologia de pensamento o que quiserem ter, que a instabilidade da ruptura é pior que a manutenção de uma maioria por poucochinho.
Porque no final do dia essa verdade não tem partido político, mas foge de ideologias extremistas: ter coisas é óptimo!
Certo camaradas?
Porque se houvesse uma desvinculada imprensa, assumida, pergunto-me, justo depois do ex-Presidente Jorge Sampaio surgir para comentar a cena política actual, ninguém o contrapôs com a sua demissão do Executivo eleito com a maioria Parlamentar em 2004?
Não vale a comparação, ou não vale a imposição política?