Há uma noção matutina que nos desperta. Aquela que traz a notícia pela manhã.
Só que a noção de notícia é diferente daquela que se pode ter daquilo que se notícia.

Lidas as parangonas, letreiros de cabeçalho, a inquietação fervorosa possui a curiosidade natural que habita cada um de nós mortais: há conteúdo por trás daquele rótulo sumarento de escândalo e escárnio?

A manha é justo essa, a de fazer crer que sim, ainda que não, que a certeza passe pela confirmação futura de uma ocorrência provocada.
O jornalismo actual presta-se a esse serviço. Já mais não se reporta à actualidade, se não aquilo que provavelmente pode vir a acontecer.

Se a jogada política da chantagem se faz no hemiciclo, é nas páginas de papel pardo que se passam os cheques-mate da vingança pública.
A verdade é circunstancial, tal como a mentira é provável.
Nada mais nos fascina do que a ferocidade enjaulada ou o contraditório feito repulsa pela sua verdade negada.

Reposição da fraude é algo que fica em pé de página junto do obituário ou do anúncio que sustenta a tinta do qual se imprime.
Já mais não existem jornalistas. Há repórteres de editores, a mando de directores que sucumbem aos pés dos seus patrões, eles também presos nas teias dos meandros da opacidade que toda a máquina da notícia se tornou.

Não se informa. Reporta-se o que vai acontecer.

Há futurologia de encomenda, na certeza de que se o inverso não se passar, a queda de quem não o fez ocorrer, é o próximo que se segue no cadafalso que este meio se tornou. Olhar para o panorama da guerra do papel é ver o declínio da recompensa. Provoca-se a instigação do escândalo viral para fazer virulenta a página onde o mesmo se imprime e vende.
Edição exclusiva em material caduco, na reciclagem que a força faz a venda da sustentação, são o método da industrialização.
Este é um negócio tão sujo quanto qualquer outro, pois de um negócio se trata, e não de uma virtude de inspiração.

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O Público é a devassa deste Sol que nunca se põe. Põe-se antes o ponto no i, na esperança que o Diário não se faça Expresso, e que o Jornal de hoje seja mesmo papel amassado de amanhã. É que neste Diabo, Crime que se vive, só um til separa a manha que tudo se tornou todas as manhãs.

Não? Sim!

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