Estávamos em 1991 quando, o então jornalista e director do jornal ‘O Independente‘, Paulo Portas, dava uma entrevista de carreira ao programa da RTP ‘Bilhete de Identidade’.
No mundo das redes sociais, sobretudo na surda voz da esquerda.net, existem vários clipes truncados da dita declaração em que Paulo admite, sendo Independente, que ‘não lhe passa pela cabeça ir para a política’.
É verdade. Ele disse-o.
Mas da mesma forma que não se deve, por sistema, descontextualizar um segmento de poucos segundos numa entrevista de 25 minutos, deveria-se compreender este carácter ‘irrevogável’ de Paulo Portas aos 29 anos.

A linha de pensamento de Portas, aqui ainda só jornalista, é bastante bem definida na introdução que Victor Cunha Rêgo – o saudoso; faz do mesmo:

“A Direita é volúvel e tem poucas convicções.
Paulo Portas tem convicções muito fortes, o que o torna um caso curioso na Direita Portuguesa. Além disso ele chegou lá pelo radicalismo estético, o que é uma aproximação muito mais de Esquerda, muito mais atípica à Direita. O que torna a sua presença à Direita muito mais forte.
Paulo Portas é um homem muito inteligente e parece apaixonado – eu tenho duvidas. Acho que há demasiada frieza em Paulo Portas, e não sei se há tanta paixão assim.
De qualquer forma, por vezes dá-me ideia de que é mais velho e que já teve muitas desilusões.
A vida dirá o que é que Paulo Portas será.
Eu acho que é uma das principais figuras políticas Portuguesas.”

E foi. E é. Goste-se ou não.

O tom soturno da entrevista pontua-se por três momentos.
#1: A introdução do genérico, em tom de mistério, detectives e jogos de sombras com uma música ambiente demasiado intimista.
#2: Paulo Portas a referenciar-se num passado como sendo um ‘puto muito irritante’, algo que muitos ainda o acham.
#3: O formalismo da entrevistadora, que no principio trata Paulo por ‘tu’, em proximidade, para no final já ser um eloquente ‘você’

Paulinho.jpg

As verdades, ou factos, independente das escolhas irrevogáveis que se fazem na vida, seja em que fase for, sãoo actuais ali como agora.
De facto, a Vida é sempre a mesma, e neste paralelepípedo à beira mar plantado – Portugal é um rectângulo tridimensional; tudo ou nada muda, nunca.

Cavaquistão, Soarismo, Sá Carneiro, partidos burgueses, o PCP, a Direita e a Esquerda, os boys e os seus jobs.
A ciclicidade do ciclo, a periodicidade do período. A comatose do coma.
A concordância, perante este hiato de 24 anos, que a realidade pouco ou nada mudou.

Os golpes desferidos pela versão jovem de Paulo, são os mesmo que o Portas faz cartilha de pensamento.
E não é preciso alistar-se num partido político para ver isso.
Um pouco como a prática religiosa da qual diz ser mau praticante.

Católico de ensino e formação, Portas diz-se mau praticante, explicando que não deve ser pela prática que se comprova a crença, mas sim pela formação base, nos ideais e ideias.
Eu digo o mesmo, se aplicado, não só à política, à vida.

A vida não é um acto de se praticar uma fé de devoção, é antes ter as bases dos princípios que nos permitam, revogando a palavra dada, saber corrigir correctamente, mesmo aquilo que seria certo ou errado.
Livre e independente.

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