Para quem segue com assiduidade o conteúdo publicado n’afarpa reparou que, em simultâneo, a densidade textual aumentou assim que o número de textos publicados diminuiu.
Não é estranho facto nem algo que se prenda com menor tempo suspendido em aplicar merecidas farpas políticas numa Sociedade minada de falhas.
Não, o meu distanciamento tem-se devido a um efeito secundário ao qual não havia encontrado nome mas descoberto a razão de desinteresse: a escala do banal no que antes seria agonizante virou nota de roda-pé.
Vivemos na Era de Trump, tudo é tremendous e nada mais tem essa sã normalidade do corriqueiro e banal.
Ou na verdade tem, porque aquilo que sentia viver mas não tinha nome para dar afinal chama-se ‘janela de Overton’.
Não, não aprendi o termo assim do nada, nem sequer o pesquisei no enfado dos dias. Facto feito acabei por encontrá-lo num vídeo do Vox onde se explicava o discurso de Trump entre a ideias que vão do politico, popular, sensato, aceitável, radical e impensável, nessa janela que varia entre maior e menor liberdade.
Compreenda-se o seguinte, hoje em dia as maiores obscenidades como o Presidente dos Estados Unidos da América ter dito o famoso “grab them by the pussy” ou declaradamente apoiar um candidato acusado de abuso de menores, causam o escândalo que o próximo escândalo traz: esqueciment0
As pessoas vivem esse desinteresse pela soberba se ter tornado um modus operandi sem controlo. E não é só nos EUA, aqui o golpe perpetuou-se com um escárnio que deveria revirar estômagos e levar populações à rua em protestos revoltosos.
Quando António Costa ainda formava o seu gangue de ataque, nessa insuspeita verdade que agora se torna tão lúcida, um momento revelava algo que o passado não escondia. A nova maioria de Esquerda unia-se em uníssono para eleger esse que um dia havia, orgulhosamente, dito “estou-me cagando para o segredo de justiça”. E o facto é que a corja apaniguada que nos trouxe Sócrates, muitos até Social Democratas, ali andou marinando as suas secretas vontades de poder que uma falência afastou.
De lá até agora as figuras de proa existem para enxovalhar e desviar o foco dessa janela para o ridículo em que tudo se tornou.
Era o Portugal diferente, agora o País saboroso. As heranças que de tanto faladas nos cansam por vivermos em permanente campanha política artificial.
Não fosse Passos Coelho o menos Social Democrata de todos creio que o BES teria sido salvo e a panaceia atrope seguido num país que se quer brando e sem muitas perguntas, mas o Grupo caiu e a ferida ficou exposta. A falência do povo foi a falência dos partidos também, desses que nos representam mas a seu bel-prazer podem legislar.
Dois anos volvidos da Geringonça operar e das dívidas que o tropeção causou na política operante, um decreto é exarado pela calada dos elogios comparsas de quem deles precisa.
PS, PSD, Bloco, PCP e Verdes promulgam uma alteração à Lei do Financiamento dos Partidos Políticos.
Vise-se que o CDS e PAN votaram contra.
Esperando que a época festiva fosse mais marcada com a falta de pernis portugueses na Venezuela, o hemiciclo achou que ninguém iria ler as benesses contidas no art° 10 da lei escrita à medida.
Aqui se vê a falta de carácter, espinha dorsal ou qualquer réstia de sentido ético social de quem pensou, escreveu e votou cada um dos pontos presentes. Pior ainda quando se sabe o carácter secreto que a preparação da Lei teve, assim como o circo em tom de pantomima de vergonha ou orgulho depois desse erro tão clarificador sobre a corja hipócrita que Portugal elege.
PCP é contra, mas quer ir mais além, o Bloco é tão caviar que se esquece ser um McDonald’s rasca populista com clara intenção de governar, o PS clarifica para dizer que rouba mesmo, um facto sabido e aceite, e o PSD faz surdina em compadrio, seguro pela vergonha alheia do acto cometido.
O CDS saiu-se bem – por uma vez (como prova o artigo do ECO), embora na CML apeste com acessória paga a ouro – e o PAN ganha pontos (virgem, diga-se), enquanto o Presidente deixa os ratos carcomerem-se no seu esgoto.
Enquanto a hérnia durar não há afectos para ninguém, embora a lei seja vetada.
Tudo isto é uma abominação tão grande que assusta é verdade, mas assusta muito mais ter sido mais relevante para a opinião pública uns bolos-rei na porta de uma Padaria que o assalto armado em São Bento. De facto o extremo desta janela é o novo banal. Pior, tornou-se aceitável.
Fretes compensados, farpas em silêncio, Nicolau Santos vai para a Lusa, tudo explicado.
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