Desde miúdo que sou apelidado de fascista pelo simples facto de ser descendente directo de Marcello Caetano.
Desconhecidos, anónimos e até colegas de escola me chamaram de fascista.

Chegou ao ponto de uma professora de História no Liceu o fazer e lhe ter de explicar que, pelo passado Familiar não me condenar especificamente, o meu bisavô em si não representava o movimento fascista já que o mesmo – apesar da designação lata se aplicar – jamais ter chegado da mesma forma a Portugal.
Terminou com a minha tia (avó) Ana Maria Caetano vir dar uma aula sobre o 25 de Abril, não sei bem se para uma plateia de pubescentes em crescimento, ou para uma professora em profunda ignorância.
O facto é que o facto da história ter uma lógica explicação e eu não ser, per se – ou osmose – fascista, não sacia a dicotomia energizada dos bem pensantes que determinam o destino da Sociedade.

BRAZIL 2019

Ainda esta semana me deparei com a interrogação chula por desconhecidos num bar: “para que lado arrumas o piço?”, num sub-entendimento de que eu seria ou não homossexual, como refrão de um passado acusatório dessa memória fascista que tenho sem ser.
Veja-se; sim, para o caso da ‘estranha’ interrogação sobre arrumação fálica, a minha orientação sexual é homossexual, mas para o leit motiv de uma herança biológica, não, não sou fascista. Revejo-me antes em valores conservadores liberais onde o respeito mutuo traça a linha entre estranhos onde, nem a homossexualidade ou o diferente pensamento político, nos tornam inimigos de alguém.
Porque ser inimigo de alguém é sempre a solução mais fácil. Criar espaço de diálogo é que é difícil.

Como tudo na vida, o equilíbrio é ao centro, o seu oposto ao extremo.

Para os esquecidos, ou aqueles que um dia me chamaram de fascista, lembrem-se que foram os militares quem derrubou o poder político em Portugal, sob a exige Comunista que se propunha impor como novo Regime a seguir. No final, ainda que o jargão fascista se tenha mantido, a Democracia venceu e o Comunismo ficou tão derrotado quanto as memórias de um Estado Novo caído de velho.
Só que o dissabor dessa amarga derrota deu lugar e terreno fértil para a dicotomia da separação germinar. Os fascistas tornam-se capitalistas, selvagens, símbolo da classe média que um Socialismo desregrado permite, enquanto o Comunismo declara-se o proprietário dos direitos Humanos, a narrativa portuguesa dos ditos brandos costumes.
Por cá nada, de facto, muda.
Por outras paragens onde português açucarado se fala, a história escreve-se em linhas tortuosas.

Bolsonaro não se elege sem a retórica do medo assente na ausência do diálogo.
A mesma Esquerda que se declarou proprietária dos Direitos Humanos, do voto fácil dos idiotas úteis, tornou a divisão Social num mote a implementar.
Foi o PT contra os outros, os Tucanos, a elite branca preconceituosa dos valores da diversidade e inclusão.
Reduziu o preconceito ao populismo fácil que numa situação difícil colocou o Brasil: Democracia corrupta ou Ditadura corrompida?

Ambas são fruto uma da outra e o Brasil, tal como Portugal na sua brandura, vai perceber que o que corrompido está é por si corrupto.
Bolsonaro é tão igual a Haddad, ou nisso a Lula. E se no passado golpe jurídico não houve, juridicamente agora se institui a República dos Juizes. Moro no pelotão.

Os extremistas, sem dúvida, atraem-se.

Nota final, desabafo de um texto que se escreveu ao longo da cambiante semana política.
No Brasil nunca fui fascista, antes alguém que é apenas Brasileiro. Apenas não, na verdade até hoje sou conhecido como ‘o português’, ecos do passado político familiar, exílio fascista em plena Ditadura Militar. E mesmo vivendo uma dualidade onde só uma nacionalidade tenho, creio que no meu Brasil nenhuma nova Ditadura voltará.
2018 não é 1964. Democracia não é golpe, e o que hoje se elege, na reeleição pode perder.

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