O término da vida Humana é algo que, se feito em condições correctas e em consciência, é algo belo e merece a aprovação que a Ciência consente face à culpabilidade imposta pela Lei.
Óbvio que para se chegar a uma frase tão terminante sobre o fim opcional da vida é preciso percorrer um longo caminho psicossomático de atribuição de responsabilidade e ir em contra a senda do mito popular que se gera em torno daquilo a que se chama eutanásia.
A eutanásia, como a própria etimologia grega indica, significa ευ “boa”, θάνατος “morte”. O encontro do fim com a bondade em realizar o seu término.
Por indício do termo a sua prática é ancestral, embora só na Grécia antiga o costume de se lhe retirar a dor, ou a questão da morte induzida ser aplicada àqueles cuja utilidade produtiva por ausência de saúde, ganha o nome que até aos dias de hoje persiste.
Só que a moral dos costumes nem sempre releva a verdade que se esconde por detrás do intuito que uma boa morte pode esconder.
A verdade do facto, e que a história confirma, é que a morte por piedade nem sempre assentou no princípio da enfermidade.
A eutanásia acabou por se revelar nesse lado Humano do perdão face ao sofrimento a infligir.
Na narrativa Bíblica, no Segundo Livro dos Reis, cap. I, parágrafos 9-10, quando Saul, prisioneiro de guerra implora pela sua morte a um amalecita, este consente-lhe a eutanásia. Logo depois o rei David mostrar a sua repugnância à prática cometida, condenando o piedoso amalecita à pena de morte. Ainda assim é o primeiro registo da prática da eutanásia que existe.
Claro que desde então, nos últimos dois milénios da sedutora tentação religiosa, a noção da morte por eutanásia tornou-se um pecado capital.
Os Santos que tiravam vidas por perdão transformaram-se em Drs Morte.
O mais famoso de todos, e claro o mais recente, foi Jack Kevorkian.
O médico patologista Norte Americano inventou a máquina para suicido assistido. Primeiro a Thanatron em 1988 e depois a Mercytron em 1991.
Embora as patentes nunca tenham sido aprovadas na sua terra Natal do Michigan, estando o propósito da morte assistida em contra a Lei dos Homens e a sua Licença Médica destituída, Kavorkian continuou a causa do suicídio assistido.
O facto de não ser ele o indutor directo da morte nos seus pacientes acabava com que fosse ilibado do crime. Tudo mudou de perspectiva em Março de 1999 quando Thomas Youk, um dos seus pacientes, sofria com uma doença que o impossibilitava de ser ele próprio a administrar as drogas. No caso, gravado e mostrado como prova em Tribunal, Kavorkian administrava ele próprio a medicação para que Youk pacificamente morresse.
O caso jurídico tornou-se uma chancela política uma vez que, além do Dr. Morte ter sido condenado a 25 anos de prisão, as suas testemunhas (mulher e irmão do paciente) foram impedidas de testemunhar a seu favor.
No total o Dr. Jack Kavorkian assumiu ter ajudado no suicídio assistido de 130 pessoas, mas negando sempre a sua participação activa como um indutor da morte.
Aquilo que o levou a tornar a Eutanásia numa máquina é justo aquilo que hoje em dia se discute com tanto vigor emocional: retirar a emoção da equação.
O Direito ao Direito sobre a vida é o mesmo Direito que o individuo, numa Democracia, deve ter sobre a sua própria morte.
A Eutanásia, mesmo se chamando – e a meu ver erradamente – suicídio assistido, não tem em si a característica desilusionada e fatalista que um suicídio tem. Praticar eutanásia, dentro do senso comum em que deve e pode existir, é permitir uma escolha consciente sobre a existência de alguém cujo físico, mental e, porventura, espiritual, já não se encontrem habilitados a prosseguir sem enfrentarem a dor de uma morte dolorosa.
Só que a desumanização da mortalidade como um pecado é algo que a Sociedade do mural copy/paste não estará mais formatada a discutir em consciência. Não só a vigência do pecado se transforma em responsabilidade, como as inquisições não ficam num remoto passado.
O gesto progressista da Bastonária dos Enfermeiros em querer demonstrar que existe Eutanásia no SNS, mostra como se rege a lógica do medo.
Embora se compreenda que se falava no gesto Humano de profissionais de saúde em proporcionar um fim digno para quem não o teria, o Ministério desde logo abriu um inquérito para apurar onde, quando, como e por quem, no medo patológico de que a Sociedade Civil se afaste do Serviço Público de Saúde.
O Dr Morte Português não é um Kavorkian, é seguramente um Harold Shipman.
Sempre em busca da sua Eutanásia pensionista.
…
“Diz que é uma espécie de Eutanásia”
A Bastonária da Ordem dos Enfermeiros é, de facto, progressista.
Se o Governo se preocupa com uma Eutanásia nas pensões, Ana Rita Cavaco preocupa-se com a Eutanásia no SNS.
Não espera. Afinal não é isso.
É progresso regressivo.
O suicídio assistido dos pensionistas existe no prolongamento ad aeternum dos descontos para a Segurança Social, enquanto a Bastonária nada disse sobre o que antes tinha dito…
É isso!
Portugal merdoso medroso.